Mesmo não tendo sido selecionado pela comissão que escolheu o candidato do Brasil a uma vaga no Oscar, Bacurau tende a se consolidar como o grande filme brasileiro do ano. É a estreia mais importante da quinta, 29, mas é preciso prestar atenção também em Yesterday, a nova fantasia do diretor Danny Boyle, que se passa num mundo sem os Beatles.
Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
O autor de O Som ao Redor e Aquarius compartilha a direção com seu diretor de arte. Cenas de caça no Nordeste brasileiro. Uma cidade corre o risco de sumir do mapa e a população pega em armas contra os gringos que chegam com tecnologia de ponta - para matar. Embora a ideia do filme tenha surgido há dez anos, Kleber e Juliano o desenvolveram nos últimos três, dando a impressão de que estão colocando o País diante do espelho. Outro grande papel, embora menor na duração, para Sônia Braga. Preste atenção em Barbara Colen e Thomás Aquino, como Teresa e Pacote. Vencedor do prêmio especial do júri no Festival de Cannes, em maio.
Yesterday, de Danny Boyle
Já tem gente apostando que o novo filme do diretor de Quem Quer Ser Um Milionário e Trainspotting estará no próximo Oscar. Dessa vez trabalhando sobre um roteiro de Richard Curtis - que escreveu O Amor Acontece e Um Lugar Chamado Nothing Hill -, o filme conta a história de um certo Jack Malick. Num encontro com amigos, ele canta uma música dos Beatles. Nunca ninguém ouviu aquilo. Jack vira um fenômeno planetário, mas que mundo é esse em que o quarteto de Liverpool simplesmente sumiu do inconsciente coletivo, ou nunca existiu? Beatles forever! A trilha, você pode imaginar, é embalada pelos hits da banda. Uma delícia. E o filme, um clássico instantâneo.
Anna - O Perigo Tem Nome, de Luc Besson
O produtor e diretor francês Besson - de Leon/O Profissional, Nikita e Lucy - adora os códigos de ação de Hollywood. Um pouco na vertente da femme Nikita, ele mostra agora tp russa, requisitada pelas maiores marcas do mundo para vender seus produtos. Só que tem um segredo. Na intimidade, Sasha Luss talvez seja a assassina mais perigosa e bem treinada do mundo. Para manter sua identidade secreta, Anna provoca um banho de sangue - em ambientes luxuosos.
A Mulher do Meu Marido, de Marcelo Santiago
Um triângulo brasileiro, ou melhor, um quadrado. Ao descobrir que está sendo traída pelo marido, mulher entra em crise e termina consolando-se nos braços de outro. A surpresa. O cara é marido de sua rival. Uma troca de casais? Luana Piovani, Paulo Tiefenthaler, Francisco Andrade, Aylin Prandi. Muitas imagens do Pão de Açúcar - sim, a história passa-se no Rio - e, na trilha, sugestivamente, Ninguém É de Ninguém.
O Amor Dá Trabalho, de Alê McHaddo
O malandro e aproveitador Ancelmo morre e fica preso numa espécie de limbo. Para conseguir seu lugar no céu, terá de unir um homem e uma mulher de temperamentos muito diversos. Leandro Hassum, que já foi rei das bilheterias no cinema brasileiros, perdeu o posto, mas está tentando recuperar. Divertido, ele continua sendo - o Mazarito da Escolinha do Professor Raimundo é a prova. Mais difícil é tirar seu público do sofá para ver a nova comédia no cinema.
Minha Lua de Mel Polonesa, de Élise Otzenberger
Um casal de franceses de ascendência polonesa - e judaica. Judith Chemia e Arthur Igual são os atores. Ambos passam por um período de reajustamento, pois acabam de ter um bebê. Nesse quadro, surge a proposta de uma viagem à Polônia. O avô dele chama o neto para uma homenagem da cidade aos judeus que morreram no Holocausto. O tema é grave e a diretora o trata num chave bastante delicada. Fazer rir sobre o assunto não é coisa fácil, mas também não é impossível. Roberto Benigni fez todo mundo rir naquele sucesso com A Vida É Bela. O problema é que a sensação, aqui, é de coisa meio sem graça.
Uruguai na Vanguarda, de Marco Antonio Pereira e Mariana González
O público que consagrou a ficção de Uma Noite de 12 Anos - e o filme foi um imenso sucesso - talvez queira ver esse documentário sobre as mudanças sociais e comportamentais que o país vizinho viveu sob a presidência de José Mujica. Casamento gay, liberação medicinal da maconha. A ideia é dar voz ao povo para que avalie o efeito Mujica na vida uruguaia. O resultado é certamente informativo, mas a crítica reclama da ‘forma’. Parece reportagem para TV. Confira.
Verão de 84, de Anouk Whissell, François Simard e Yoann-Karl Whissell
Um filhote de Stranger Things? Grupo de adolescentes suspeita que policial é responsável pelos crimes que agitam comunidade. Será um serial killer? Ao investigar, correm perigo. O trio de diretores não cede à nostalgia, mistura thriller e comédia e chega ao terror. O público alvo é de jovens e o filme pode ser visto como aquecimento para It -A Coisa 2, que estreia na semana que vem.