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Filmes políticos são vitoriosos no Festival de Berlim

Por MIKE COLLETT-WHITE
Atualização:

Os dois filmes mais abertamente políticos que participaram da competição do Festival de Cinema de Berlim este ano levaram os prêmios principais, surpreendendo alguns críticos que questionaram suas mensagens e seus métodos. O ganhador do Urso de Ouro de melhor filme foi "Tropa de Elite", de José Padilha, retrato ultraviolento de um batalhão de policiais de elite brasileiros que recorrem à corrupção, tortura e métodos ainda piores na luta contra os chefes do tráfico nas favelas do Rio. O segundo colocado, que recebeu o grande prêmio do júri, foi o documentarista premiado com o Oscar Errol Morris por "Standard Operating Procedure", um estudo do que deu errado no presídio de Abu Ghraib, no Iraque, onde soldados americanos cometerem abusos contra presos. A escolha do vencedor dividiu os críticos. Enquanto alguns elogiaram "Tropa de Elite", descrevendo-o como história contundente e ágil das concessões morais feitas pela polícia para sobreviver, outros disseram que o filme glorifica seus métodos frequentemente brutais. Um crítico o descreveu como "filme de recrutamento de criminosos fascistas". Padilha defendeu seu filme, que já é grande sucesso de público no Brasil, dizendo que retrata os fatos como realmente são. Durante o festival, ele argumentou que a única maneira de quebrar o ciclo de criminalidade ligado às drogas é legalizá-las. "O filme mostra como o Estado transforma a polícia ou em policiais corruptos ou em policiais que não querem fazer nada, ou em policiais violentos", disse Padilha na noite de sábado, após a premiação. "Tropa de Elite" é o mais recente de uma série de filmes brasileiros aclamados que ressaltam o lado sombrio do Rio, após o indicado ao Oscar "Cidade de Deus" sobre gangues numa favela carioca. A Weinstein Company comprou os direitos de "Tropa de Elite" antes mesmo de o filme ser rodado, baseada unicamente no roteiro. OLHAR PONDERADO SOBRE ABU GHRAIB "Standard Operating Procedure" é uma análise ponderada do que deu errado em Abu Ghraib. "Como mostra o filme, as pessoas que foram de fato condenadas e estão presas em conexão com Abu Ghraib não são as únicas envolvidas nisso", disse Morris. Embora não seja tão polêmico quanto "Tropa de Elite", o filme tampouco agradou a alguns espectadores, para os quais ofereceu poucos insights novos sobre os abusos e deixou de lado a questão mais ampla de como o escândalo que cercou os acontecimentos prejudicou o prestígio dos Estados Unidos. Foram mais populares os prêmios Urso de Prata de melhor diretor, ator e atriz. O prêmio de direção foi dado a Paul Thomas Anderson por "Sangue Negro", protagonizado por Daniel Day-Lewis no papel de explorador petrolífero resoluto e ganancioso nos EUA no início do século 20. Embora muitos críticos tenham considerado o filme o melhor da competição, o fato de já estar em cartaz nos EUA e de ter recebido oito indicações ao Oscar pode tê-lo prejudicado em Berlim. O troféu de melhor ator ficou com o iraniano Reza Naji por "The Song of Sparrows", filme que mostra como o idílio rural de um homem é ameaçado pelas tentações materiais que a cidade grande põe em seu caminho. Confirmando as previsões dos críticos, a britânica Sally Hawkins recebeu o Urso de Ouro de melhor atriz pelo retrato de uma professora contagiantemente otimista em "Happy-Go-Lucky". O prêmio de melhor roteiro foi dado ao chinês Wang Xiaoshuai, que escreveu e dirigiu "In Love We Trust", sobre um casal divorciado que recorre a medidas drásticas para tentar salvar sua filha doente. Outros destaques de Berlim incluíram "Shine a Light", de Martin Scorsese, sobre os Rolling Stones. Mas a muito antecipada estréia de Madonna como diretora, "Filth & Wisdom", decepcionou muitos críticos, que o consideraram tão ruim quanto as piores performances dela diante das câmeras.

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