O cinema não foi muito a praia de Carlos Zara, se compararmos sua carreira nas telas à trajetória muito mais significativa no teatro e na televisão. Nos anos 50, Zara participou de Quem Matou Anabela? (1956), de D.A. Hamza, história policial desenvolvida a partir de um argumento de Orígenes Lessa. No mesmo filme, ao lado dele, trabalhavam dois ícones do teatro, Procópio Ferreira e Jayme Costa. Depois veio O Pão Que o Diabo Amassou (1958), outro filme que incorporava no elenco o pessoal do teatro paulista. Por exemplo, foi a estréia, no cinema, de outro grande nome dos palcos, Raul Cortez. No entanto, apesar desse retrospecto discreto em termos de cinema, Zara acabou por integrar o elenco de um dos títulos mais polêmicos dos anos 80, Pra Frente, Brasil (1980), de Roberto Farias. Quem se lembra da época sabe que o título remete à famosa marchinha que embalava os jogos da seleção, que em 1970 lutava pelo tricampeonato no México. Ao mesmo tempo, o País vivia a fase mais negra da ditadura militar, havia a luta armada, a prática da tortura se generalizara e o governo Médici contra-atacava com a propaganda do "milagre econômico". Sob o verniz do ufanismo, latejava um país dilacerado e este era o retrato que Farias queria compor. Como seria de se esperar, um filme com tal conteúdo, e lançado na fase terminal do regime militar, não foi visto com bons olhos. Teve problemas com a censura e abriu uma crise na Embrafilme provocando a saída do presidente da empresa, Celso Amorim. Acaso ou não, a pequena carreira de Carlos Zara parece se concentrar em obras políticas. Depois de longa ausência nas telas, o ator voltou em Lamarca (1994), de Sérgio Rezende, cinebiografia do capitão do Exército Carlos Lamarca, que aderiu à luta armada contra o regime. Época da trama: início dos anos 70, a mesma de Pra Frente, Brasil. Pensando bem, a opção de Carlos Zara, irmão do ex-guerrilheiro Ricardo Zarattini, por filmes tão aparentados pela temática talvez não tenha sido mera coincidência.