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Filmes põem em pauta sexo e afeto no mundo mix

Beijando Jessica Stein, que estréia amanhã, é o primeiro de uma série de três filmes que questiona os limites entre homo, hetero e bissexualidade

Por Agencia Estado
Atualização:

Vem aí uma série de filmes que discute os limites entre sexo e afetividade no mundo mix. De maneira um tanto grosseira, você poderia dizer que são filmes que mostram a "recuperação" de personagens homossexuais para a atividade hetero. É o elo que une Beijando Jessica Stein, de Charles Herman-Wurmfeld, Um Amor Quase Perfeito, de Ferzhan Ozpetek, e Possessão, de Neil LaButte. O primeiro estréia amanhã, o segundo deveria entrar também amanhã em cartaz, mas foi jogado para adiante pelos distribuidores. Um Amor Quase Perfeito conta a história de uma mulher abalada pela morte do marido e que fica mais abalada ao descobrir que ele tinha um caso. Investigando, descobre que o marido perfeito não tinha outra, mas outro. Ela se envolve com o amante do marido e seus amigos pouco convencionais. Em Possessão, a narrativa se desenvolve em dois tempos, quando pesquisadores do presente investigam, como num policial, a vida de um famoso poeta do passado, conhecido por sua monogamia. Pois bem, ele teve um caso e a amante era lésbica, o que não a impede de viver uma ligação intensa que deixará seus frutos e não apenas literários. Hetero, homo, bi. São filmes que tratam de sexualidade e afeto, procurando mostrar que não existem rótulos capazes de impedir as pessoas de expressar seus sentimentos, quaisquer que sejam. São filmes que vão irritar os gays de carteirinha, os que militam pela causa do orgulho de sua preferência. Porque em todos esses filmes o gay (re)descobre o sexo oposto e retoma o que seria, digamos, a regra corrente dos relacionamentos. Claro que não são filmes só sobre isso e, no fundo, talvez não sejam nem sobre isso, mas é um tema recorrente que permeia todos. O melhor desses filmes é o italiano, de Ozpetek. O de LaButte é muito interessante, com sua construção em puzzle que permite ao diretor discutir a linguagem, como já havia feito em A Enfermeira Betty, por exemplo. E há o filme que estréia amanhã. A rigor, é o menos bom dos três, mas isso não deve desanimar o público. Mesmo o pior filme (que Jessica Stein não é) pode ter, às vezes, momentos belíssimos (e isso a estréia de amanhã tem). A Jessica do título é a típica mulher moderna. Executiva bem-sucedida, talvez exija demais dos homens, mas a verdade é que não consegue achar um só, que seja, para uma ligação estável. Jessica um dia encontra um anúncio que lhe chama a atenção no jornal. O problema é que o tal anúncio está publicado na seção "Mulher Procura Mulher". Após a hesitação inicial, Jessica encara o desafio de uma experiência lésbica. O filme descreve as diversas fases desse tipo de relação. E também o ocultamento da identidade do outro, no caso, da outra, a curiosidade e excitação dos amigos mais chegados, quando se inteiram do fato, etc. A grande cena é aquela em que a típica mãe judia, que vivia tentando arranjar um bom partido para a filha, antecipa-se à revelação de Jessica e fala com ela com um carinho verdadeiramente tocante. Cria-se uma situação esdrúxula: um excesso de normalidade numa situação que ainda é sujeita a todo tipo de preconceito. Na verdade, o tema de Jessica Stein, que nasceu da pesquisa das atrizes e roteiristas, Heather Juergensen e Jennifer Westfeld, num laboratório de teatro, talvez seja esse, o próprio preconceito, mais que a busca da identidade sexual. O final deve desagradar a meio mundo - aquela metade que fez a opção diferente da de Jessica, principalmente. Mas que o filme tem momentos divertidos e humanos, lá isso tem. Beijando Jessica Stein (Lipschtick). Comédia romântica. Direção de Charles Herman-Wurmfeld. EUA/2001. Dur. 96 min. 14 anos.

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