Filmes de até 14 horas redefinem a arte de narrar no 12.º Festival Indie

Com o tema 'Novos Formatos para Novos Tempos', mostra no Cinesesc, em São Paulo, vai até o dia 19 de setembro

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Havia neste ano, em Cannes, uma forte representação japonesa. O júri presidido por Cate Blanchett premiou Shoplifters, de Hirokazu Kore-eda. Há muito o cineasta merecia sua Palma de Ouro. Ganhou-a por seu filme talvez menos satisfatório. O júri teria ousado mais, e feito a coisa certa, se tivesse premiado o outro japonês, Ryusuke Hamaguchi, por Asako I e II.

Um filme em duas partes sobre a (des)ilusão amorosa. Uma mulher, Asako, apaixona-se por um artista, ele some. Ela encontra o perfeito clone dele. Unem-se e, por muitos anos, levam uma vida tranquila – até que o outro reapareça, agora como uma celebridade. Ele reclama a antiga prometida, que joga a sua vida para o alto. Estará fazendo a coisa certa?

'Asako'. Uma mulher, dois homens exatamente iguais Foto: MK2

Asako I e II inaugura nesta quarta, 12, o Festival Indie de 2018. O evento surgiu há 18 anos em Belo Horizonte. Essa é a 12.ª edição em São Paulo. O tema do festival deste ano é Novos Formatos para Novos Tempos. Asako I e II encaixa-se à perfeição no conceito. Hamaguchi costuma ser comparado a Eric Rohmer. Faz filmes que estrutura segundo diferentes pontos de vista de personagens. Joga com o tempo. Justamente, o tempo. Talvez seja a grande proposta do Indie 2018. O cinemão, que faz filmes para o mercado, elege durações padrões em torno de duas horas.

'Asako'. Uma mulher, dois homens exatamente iguais Foto: MK2

Happy Our, outro filme de Hamaguchi, exibido em outro Indie, há dois anos, tem mais de cinco horas. Da Argentina vem, para essa edição, La Flor, de Mariano Llinás. O longa, e põe longa nisso, tem cerca de 14 horas de duração. Realizado ao longo de nove anos, apresenta quatro atrizes – Pilar Gamboa, Elisa Carricajo, Laura Paredes e Valeria Correa –, que se revezam interpretando várias personagens, em diferentes histórias e gêneros. O filipino Lav Diaz, que costuma reger sua obra pelo espaço e pela natureza, não pelo tempo, dessa vez apresenta um filme, a ópera-rock Estação do Diabo, que só tem quatro horas! Praticamente, um curta. O Indie deve ocorrer no Cinesesc, até 19. Vai mostrar raridades como H, do austríaco Johann Lurf. O diretor quer que se use o símbolo, não a palavra – Estrela. São imagens de céus estrelados que ele compilou de 550 filmes.

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