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Filmes brasileiros concorrem no Festival de Veneza

Abril Despedaçado, de Walter Salles e Dias de Nietzsche em Turim, de Julio Bressane participam do evento italiano que tem início nesta quarta-feira

Por Agencia Estado
Atualização:

A novidade desta edição será a volta do cinema latino-americano, ausente do festival havia muitos anos. É assim que Alberto Barbera, presidente do 58.º Festival de Veneza, define a característica principal do evento que dirige pela terceira vez. Serão dois os filmes brasileiros (Abril Despedaçado, de Walter Salles e Dias de Nietzsche em Turim, de Julio Bressane), um mexicano (Y tu Mamán También, de Alfonso Cuarán) e três argentinos (Sábado, de Juan Villegas; Los Porfiados, de Mariano Torres Manzur, e Vagón Fumador, de Verónica Chen). Certo, mas esses filmes estão em seções diferentes da Mostra. Brasil e México competem na principal, Venezia 58, aquela que atribui os prêmios mais cobiçados, em especial o Leão de Ouro, que o Brasil nunca ganhou. O argentino Sábado está na seção Cinema del Presente que Barbera transformou em mostra competitiva este ano - o vencedor leva para casa um certo Leone del Anno (Leão do Ano). Dos outros dois argentinos, um, Los Porfiados, está na mostra não-competitiva Novos Territórios, fazendo companhia a Julio Bressane, e outro é parte da Semana Internacional da Crítica. Ou seja, Barbera, propositadamente, embaralha as seções do festival que dirige. Faz com que uma valha a outra e censura a tentação de instituir distinções do tipo ´série A´ ou ´série B´ como andaram fazendo alguns jornais italianos, ao comparar o festival ao campeonato de futebol. A justificativa de Barbera: apesar da diversidade tradicionalmente proposta pelo festival, a mídia presente a Veneza acaba sempre prestando mais atenção aos filmes da mostra competitiva. Qual a saída? Dobrar a competição. Fazer duas, uma com 20, outra com 21 filmes - e os jornalistas que se virem como puderem para acompanhar o ritmo da maratona. Por isso, alguns como o conceituado Tullio Kezich, do Corriere della Sera, ironizam dizendo que não é mais São Marcos e sim Santo Antonio de Pádua o padroeiro do festival. Como se sabe, entre os atributos de Antonio estava o dom da ubiqüidade. Números - Mas será preciso mais que a capacidade de estar em vários lugares ao mesmo tempo para aproveitar tudo o que Veneza oferece este ano em termos de cinema. Eis os números: 178 filmes, dos quais 78 em longa-metragem, 56 entre curtas e médias-metragens, 12 documentários, e mais as retrospectivas consagradas ao dublê de cineasta e filósofo Guy Debord, e ao diretor polonês Andrzej Munk. Haverá também o Leão especial pela carreira, atribuído este ano ao francês Eric Rohmer, que estará apresentando fora de concurso seu mais novo trabalho, L´Anglaise et le Duc, rodado em digital. Rohmer, um dos grandes nomes da nouvelle vague, atualmente com 81 anos, não é chegado a festivais. Manda seus filmes mas não vai. Este ano abre exceção e deve desembarcar no Lido para receber seu troféu. Diante da overdose, como seguir Veneza? Simples: procedendo como se faz habitualmente com a avassaladora indústria cultural, ou seja, será preciso selecionar. Assim, como não se lêem todos os jornais ou não se navegam todos os sites da Internet, não será possível estar em todas as salas ao mesmo tempo. Acontece que o freqüentador de festivais, profissional ou não, é um ser onívoro por definição. Sempre acha que está perdendo alguma coisa importante e - o que é pior - em geral está perdendo mesmo. É comum que você, extenuado depois de ter visto quatro ou cinco longas-metragens em seguida, tenha seu jantar estragado por um colega que garante ter visto "o filme do festival" - de um diretor de quem nunca ninguém ouviu falar, projetado naquela improvável sala distante, num horário impossível. Faz parte do jogo. Só que este ano o jogo foi acirrado por Alberto Barbera. Não faltam insinuações da imprensa local de que se trata menos de uma decisão estética do que puro marketing político. Tanto Barbera quanto seu superior, Paolo Baratta (presidente da Biennale di Venezia, que abriga a mostra de cinema) estariam com os cargos ameaçados depois da vitória eleitoral de Silvio Berlusconi. Com a reacomodação política, prevê-se a inclinação da Biennale e do próprio festival à direita. Barbera então estaria tentando uma fórmula que, bem-sucedida, lhe daria sobrevida para organizar o evento do ano 2002. Mas há quem diga que todos os esforços serão inúteis e Berlusconi irá mesmo colocar gente sua na direção do festival. Entre os nomes cogitados para substituir Barbera está o do cineasta Franco Zeffirelli. É nesse clima de polêmica e de política que o Brasil faz nova tentativa de levar para casa o Leão de Ouro. Walter Salles estará disputando a estatueta inédita na quinta-feira da semana que vem, dia 6, quando seu Abril Despedaçado, inspirado no livro do albanês Ismail Kadaré, será projetado na sessão de gala. Até lá muita água vai correr. O festival começa amanhã, oficialmente, com Dust, de Milcho Manchevski, que passa fora de concurso. O tal Cinema del Presente, a ´série B´ abre com um longa-metragem de Giuseppe Bertolucci, L´Amore Probabilmente. Polêmicas à parte, muitas novidades devem surgir. Pelo menos é grande o número de diretores desconhecidos espalhados pelos vários segmentos da mostra. Se além do ineditismo trarão também a qualidade é outra questão, que só poderá ser respondida depois de 11 longos dias de maratona cinematográfica.

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