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Filme viaja no tempo para retratar a cultura ribeirinha

O enredo de São Francisco, Um Rio Cheio de Histórias, de Marcus Vinicius Cézar, é contado por uma canoa que navega o rio há 500 anos

Por Agencia Estado
Atualização:

Em 1997, Marcus Vinicius Cézar iniciou uma viagem pelo Brasil, para documentar as manifestações musicais das diversas regiões brasileiras numa série de documentários para o canal Multishow, da Globosat. Ele começou pelo Recife, foi a São Luís, no Maranhão. A terceira escala foi no Rio São Francisco e aí Cézar parou. Há três anos e meio ele trabalha num projeto sobre o qual não consegue falar sem arrebatamento. São Francisco, Um Rio Cheio de Histórias é uma ficção que viaja no tempo para contar histórias da cultura ribeirinha. A ficção está "quase" concluída. Falta somente uma semana para Cézar concluir a montagem definitiva. Mas não será esta semana. Ele está viajando para Salvador. Vai tentar achar uma atriz com um timbre especial. A história de São Francisco, Um Rio Cheio de Histórias é contada por uma canoa que singra o rio há quase 500 anos. Cézar quer uma voz com sotaque nordestino e que consiga passar experiência e cansaço sem forçar demasiado. Quando se lançou ao projeto, ele achou que seria como no Recife ou em São Luís, lugares que possuem uma cultura muito rica, mas que ele conseguiu mapear rapidamente. No São Francisco, a coisa emperrou e não foi por falta de inspiração. Pelo contrário, foi pelo excesso de informação que Cézar encontrou ao longo de duas viagens desde a nascente até a foz. Ele foi parando, entrevistando, registrando as entrevistas. Descobriu que o velho Chico, que banha cinco Estados e faz parte da história do Brasil desde 1501, quando Américo Vespúcio o descobriu, permanece um celeiro de manifestações culturais de raízes riquíssimas. Ele arrisca uma interpretação: "O rio corre pelo interior do Brasil; esse afastamento da costa permitiu que ele sofresse menos a pressão externa e preservasse mais tradições que foram se perdendo em outros lugares." Esse é o motivo pelo qual acha que seu filme terá um caráter de resistência. Em plena era da globalização, vai mostrar um Brasil que não está parado no tempo, mas permanece ligado a uma raiz da qual a cultura urbana se afastou. Como se trata de uma ficção, Cézar permitiu-se certas licenças. Ele se projeta no personagem principal, interpretado por Fábio Assunção. É um fotógrafo que vai tirar fotos do rio. Um cara da cidade, como ele. E que, como ele, começa a sentir a magia do rio, a querer saber mais. O rio como metáfora da vida é uma idéia filosófica antiga. Ninguém se banha duas vezes na água de um rio. O rio está sempre passando e, com ele, a história, a vida. Cézar vai misturar tempo e espaço. Fatos ocorridos nos 1600 e nos 1700 foram incorporados à narrativa. Embora já esteja chegando ao fim da montagem, ele não trabalha com datas. O filme tem produção executiva de Carla Camurati, mas ela não lhe cobra uma data-limite. Cézar não trabalha pensando em termos de festivais. Pode até ser que o faça, se o filme ficar pronto, mas não corre para submeter o filme à comissão de seleção do Festival de Brasília, por exemplo. Está mais interessado em levantar recursos para outros dois projetos também ligados ao rio. Uma série de dois documentários para televisão, usando o material que registrou, e o disco com a música do São Francisco. Já bateu às portas da BR Distribuidora. Se a madrinha do cinema brasileiro não lhe der os recursos, ele não desistirá. Seguirá em busca de patrocínio para o projeto que julga, mais do que relevante, necessário.

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