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Filme turco leva o prêmio da crítica em Cannes

Não será surpresa se, ao prêmio da crítica, Iklimler (Climates), de Nuri Bilge Ceylan, somar também algum prêmio importante do júri, quem sabe a própria Palma de Ouro

Por Agencia Estado
Atualização:

E o prêmio da crítica do 59.º Festival de Cannes foi para... a Turquia. Iklimler (Climates), de Nuri Bilge Ceylan, foi o grande vitorioso entre os filmes da mostra principal, a que vale a Palma de Ouro, que será entregue neste domingo. Na outra mostra que compõe a seleção oficial, "Un Certaion Regard", o júri da Fipresci, Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica, escolheu Hamaca Paraguaya, de Paz Encina. Finalmente, nas demais seções, o júri da Fipresci fez justiça a um dos melhores filmes deste festival um tanto irregular, premiando Bug, de William Friedkin, exibido na Quinzena dos Realizadores. Nuri e sua mulher, Edrun Ceylan, são os protagonistas da história de um casal em crise permanente. Ele é professor universitário, ela é cenógrafa e decoradora de cinema. Não conseguem viver juntos nem separados. Não será surpresa se, ao prêmio da crítica, o concorrente turco somar também algum prêmio importante do júri, quem sabe a própria Palma de Ouro. Iklimler tem tudo o que o presidente do júri deste ano, Wong Kar-wai, gosta - uma narrativa desconstruída, um casal numa relação terminal, erotismo. Edrun é uma bela mulher, Nuri Bilge Ceyulan é talentoso, mas o problema, se existe, é que o filme não provoca aquilo que os franceses chamam de ´coup de coeur´, o choque que provoca a paixão. Adaptação Cinema paraguaio deve soar como uma coisa muita estranha para quem só está acostumado a ver os filmes de Hollywood. O filme de Paz Encina fornece uma boa iniciação. Rigoroso até quase o limite da abstração, o filme compõe-se de uma série de cenas com câmera parada, nas quais um casal de velhos é filmado à distância. Só uma vez a câmera está perto. Na maior parte do tempo, o espectador acompanha à distancia essa discussão sobre a guerra. Os velhos realizam seu luto por meio da palavra. O filho, presumivelmente, morreu na guerra, mas eles não têm um cadáver para chorar. Falam, falam, com uma espécie de floresta ao fundo e tudo enquanto a noite não chega. Chama-se justamente assim, Enquanto a Noite não Chega, o livro de um escritor gaúcho, Josué Guimarães, do qual Hamaca Paraguaya parece a adaptação. A diretora jura que não conhece o livro. Não há por que estar mentindo, mas existem muitos pontos de semelhança entre a narrativa literária e o roteiro que ela própria escreveu. Respeito recuperado William Friedkin, o diretor de Operação França e O Exorcista, há tempos desiludiu-se com o cinema - e os críticos e o público, é bem verdade, tambm se desiludiram com ele. Nos últimos tempos, Friedkin trocou o cinema pela ópera e virou um grande regente nas maiores casas de ópera do mundo. Ele volta com um filme que tem a guerra do Golfo como fundo. Uma mulher que perdeu o filho no supermercado fica à deriva na vida. Ashley Judd interpreta o papel, que poderia lhe valer o prêmio de interpretação, se Bug estivesse concorrendo à Palma. Ela se envolve com esse veterano pirado, que acha que está sendo devorado por vermes. É preciso estômago e nervos de aço para assistir a certas cenas. Numa delas, os dentes de um sujeito são arrancados na marra e aquilo é mais assustador do que qualquer exorcismo. Friedkin foi aplaudido durante cinco minutos no fim da apresentação oficial. É comovente ver um diretor que já era considerado carta do baralho recuperar o respeito da crítica. Tomara que recupere também o do público, quando (ou se) Bug estrear no Brasil.

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