Filme sobre Thatcher gera reações apaixonadas na Grã-Bretanha

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Por MOHAMMED ABBAS
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Ninguém incendeia mais as paixões dos britânicos do que Margaret Thatcher, e o legado da ex-primeira-ministra voltou a ser debatido com ardor por ocasião de um filme inspirado em sua trajetória, "A Dama de Ferro", que estreia na sexta-feira. Legiões de admiradores a veem como uma pioneira na adoção de políticas que salvaram a Grã-Bretanha de um colapso econômico, mas um número igualmente numeroso de detratores a qualifica como uma insensível defensora da ortodoxia de livre mercado à custa dos pobres. A lembrança do governo Thatcher (1979-90) também voltou à lembrança dos britânicos porque, assim como naquela época, o país enfrenta desemprego alto, cortes orçamentários, tensões com a Europa, descontentamento sindical e distúrbios. "Seu legado é enorme", disse o parlamentar conservador John Whittingdale, que foi secretário político de Thatcher. "Ela promoveu políticas que transformaram a Grã-Bretanha, e na verdade a relação da Grã-Bretanha com o mundo, algo que nunca será revertido nem ninguém cogitará reverter." Ele citou a contribuição dela para o fim da Guerra Fria, por meio da sua aliança com os EUA de Ronald Reagan, e também a vitória na Guerra das Malvinas (1982), contra a Argentina, que reforçou a autoridade britânica no cenário global. Seus admiradores também lhe agradecem pelas privatizações e desregulamentações que desmontaram o que eles consideravam ser um Estado quase socialista, dominado por sindicatos. Mas seus detratores citam as violentas greves ocorridas quando ela confrontou o sindicato dos mineiros de carvão, em 1984, os distúrbios de 1990 por causa de um impopular imposto chamado Poll Tax, e as vastas extensões industriais abandonadas por causa do declínio econômico e do desemprego permanente. Seu mandato marcou a ascensão da cultura "yuppie" ligada ao capitalismo individualista, algo que muitos culpam pelos problemas econômicos e pela falta de coesão da atualidade. "O legado de Margaret Thatcher foi de divisão e conflito, e de estímulo político à cultura do 'cobiçar é bom', que está na raiz da crise bancária pela qual todos nós estamos pagando caro hoje", disse Bob Crow, do sindicato ferroviário RMT. Num sinal da capacidade dela de promover polêmicas, mais de 24 mil pessoas aderiram a um zombeteiro abaixo-assinado propondo a privatização do futuro funeral com honras de Estado para Thatcher. "Essa oportunidade única é uma forma ideal de cortar despesas governamentais e provar ainda mais os méritos da economia liberalizada que a baronesa Thatcher promoveu", diz a petição. A polarização é tamanha que torna difícil formar uma noção equilibrada do seu mandato. "O que eu notei quando estava fazendo o filme é como os sentimentos são ferozes em ambos os lados. As pessoas queriam mantê-la como um ícone indelével, ou queriam a considerar como um monstro", disse à Reuters a atriz Meryl Streep, que interpreta Thatcher no cinema. Streep disse que não concorda com muitas das políticas thatcheristas, mas que admira muitas das suas qualidades pessoais -posição partilhada por muitos britânicos. Thatcher, filha de um quitandeiro, rompeu arraigadas barreiras de gênero e classe ao ascender à liderança do Partido Conservador e se tornar primeira-ministra. Hoje, aos 86 anos, ela tem a saúde frágil e sofre de demência senil. (Reportagem adicional de Sarah Mills)

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