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Filme sobre o Lira Paulistana abre festival de documentários

Quarta edição do In-Edit Brasil - Festival Internacional de Documentário Musical começa nesta quinta, com sessão para convidados, em São Paulo e segue até 10 de junho

Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

De 1979 a 1986, um teatro de arena num porão no bairro de Pinheiros virou o ponto de encontro mais significativo da música e da cultura moderna feita em São Paulo. Alternativos, independentes, vanguardistas, outsiders - qualquer que fosse a expressão que os identificasse, era no Lira Paulistana que se juntavam os artistas mais interessantes. Sua história finalmente chega ao cinema, contada por um de seus mentores, Riba de Castro. 

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Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista abre a 4.ª edição do In-Edit Brasil - Festival Internacional de Documentário Musical, quinta-feira no MIS. A sessão de abertura é só para convidados e terá show da Banda Isca de Polícia, um dos ícones daquela geração que fizeram a história do teatro. O filme terá mais duas sessões abertas ao público: sexta, às 17 h, no Cine Olido, e no dia 6 de junho, às 19 h, no Cinesesc.

Até pouco tempo atrás considerada referência da cultura de caráter underground e restrita a São Paulo, o Lira também escreveu parte da história do rock paulistano dos anos 1980 - o que poucos lembram e o filme ressalta agora. Bandas como Titãs (que começaram como Titãs do Iê Iê), Ultraje a Rigor, Cólera e Inocentes deram seus primeiros passos naquele porão e depois viraram sucesso nacional.

Riba de Castro, um dos sócios fundadores do Lira, conta que fez o filme nas mesmas condições precárias com que mantinha a casa, ou seja, com verba do próprio bolso, sem patrocínio nem distribuidora. Sem previsão para entrar em circuito comercial, o documentário deve ser exibido apenas em festivais. 

A história é contada por seus mais importantes protagonistas e agregados frequentadores: os quatro sócios do teatro, que se desmembrou em gravadora e editora; Fernando Meirelles e Marcelo Tas, produtores independentes de vídeo que se tornaram nomes fortes do cinema e da televisão; o jornalista Mauricio Kubrusly, o cartunista Paulo Caruso e, principalmente, gente de música, como Arrigo Barnabé, Lanny Gordin, Cida Moreira, Mario Manga e Wandi Doratiotto (ambos do Premê), Suzana Salles, Roger (Ultraje), Luiz Tatit e Ná Ozzetti (Grupo Rumo) - que se reencontram esta semana em shows em São Paulo -, Nelson Ayres, Skowa, Laert Sarrumor (Língua de Trapo), entre outros.

Só faltou Itamar, que aparece em shows gravados em vídeo. “Tinha pressa em entrevistá-lo porque ele estava doente, mas infelizmente não deu tempo”, lamenta Castro. “Mas consegui juntar muita gente. Ficou meio que uma conversa de bar, porque um começa e o outro continua.” O Lira ganhou tanta credibilidade que, como lembram os artistas, muita gente ia lá até sem saber o que havia na programação: porque era um público aberto a novidades e sabia que se o cantor, músico ou banda estavam ali era porque deviam ser bons. 

Os shows passaram a ficar tão concorridos que artistas como Itamar às vezes faziam duas ou três sessões na mesma noite. Com o crescimento, o Lira passou a promover grandes encontros, ocupando outros espaços, como a Praça Benedito Calixto, o Teatro Bandeirantes e até a Avenida Paulista, num aniversário da cidade. O que hoje é trivial, como a produção de discos independentes e os grafites, que se tornaram famosos no muro ao lado do teatro, foram marcas do pioneirismo do Lira Paulistana. 

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O diretor contou com a ajuda de amigos para finalizar o filme, como a produtora O2 e a TV Cultura, que cedeu as imagens de arquivo e vai incluir o documentário na programação. Além do documentário para cinema, Riba escreveu um livro contando a história do Lira. “Era para ter saído com o filme, mas acabou dançando, porque hoje ninguém está bancando esse tipo de publicação em papel. É um livro caro, com formato diferente, com muitas fotos. O custo era quase o mesmo o de finalizar o filme”, diz.

Com 77 títulos, festival recebe Don Letts

O espírito batalhador do Lira Paulistana também baixou no In-Edit. Por falta de patrocínio, o festival teve de ser adiado e será realizado de 1º a 10 de junho em seis salas de São Paulo, e de 14 a 21 de junho em Salvador. São 77 filmes, entre eles 12 nacionais. Don Letts, o DJ inglês de origem jamaicana que registrou o nascimento do punk em Londres, é o grande convidado e homenageado com quatro títulos na mostra, incluindo o mais recente, Rock’n’Roll Exposed - The Photography of Bob Gruen

Grandes nomes do pop, do rock e do jazz, como George Harrison, David Bowie, Iggy Pop, Lou Reed, George Martin, Michel Petrucciani, Dave Brubeck, Ozzy Osborne, Ray Davies, Queen e Serge Gainsbourg são contemplados em diversas produções. Marcelo Andrade, curador do festival, diz que esta foi a edição “mais acidentada”, pela questão do patrocínio, mas a produção brasileira se mantém forte. “A quantidade de filmes que recebemos para selecionar foi um pouco maior do que a do ano passado, mas o nível subiu muito.”

Destaques:

Eu Vou Rifar Meu Coração

Ana Rieper aborda o universo da música brega dando voz aos artistas e ao seu público, com histórias reais de amor e desilusões. Dia 5 no MIS e dia 6 no Cine Olido.

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Fernando Faro

Produtor é convidado da homenagem do festival no domingo, quando será exibida montagem de momentos históricos de seus programas na televisão, realizada por Oscar Rodrigues Alves.

4º IN-EDIT BRASIL

Festival Internacional do Documentário Musical. De 1º a 10 de junho. Mais informações no site www.in-edit-brasil.com

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