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Filme sobre Joãosinho Trinta ganha sessão especial no Municipal do Rio de Janeiro

Longa conta trajetória do famoso carnavalesco

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

RIO - Foi uma apoteose, como se a Sapucaí tivesse se transferido para o Municipal. A própria Ilda Santiago, diretora artística do festival, foi agradecer ao teatro - e a Carla Camurati - a cessão do espaço para a gala de Trinta, o longa de Paulo Machline que faz um recorte decisivo da vida de João Jorge, o Joãosinho Trinta. O garoto que deixou o Maranhão para integrar o corpo de bailarinos do Teatro Municipal e virou carnavalesco teve de superar preconceitos da família e no barracão do Salgueiro. Em toda parte era alvo de zombaria, o ‘frutinha’. Mas era um gênio e, com empenho (e pesquisa), revolucionou os desfiles carnavalescos. O filme narra justamente esse momento de passagem, em que João vira Joãosinho e prepara seu primeiro desfile. É também a passagem do erudito, em sua formação artística, para o popular. A ópera e o balé dão lugar ao desfile. Tudo conspira contra, mas, maior que o desprezo pelo gay, é o amor pela escola e todo mundo cerra fileiras em torno da visão de João, que casa lendas do Maranhão com o rei-menino da França. Como se cria um enredo? Um samba? Como se faz do lixo o luxo? Paulo Machline tem o desejo nada secreto de filmar as três paixões dos brasileiros. Já fez seu curta sobre futebol, o longa sobre carnaval e agora vai se empenhar para concretizar o outro longa, sobre as novelas. Machline fez 1001 agradecimentos. Poderia tê-los concentrado num só - a seu ator.

Matheus Nachtergaele não cessa de surpreender. Numa cena, acuado no barracão, Joãosinho tem um piti. “Querem Exu, pois vou lhes dar um Exu.” E cai matando sobre todo mundo, despejando mais palavrões que você já ouviu ou ouvirá na vida. O barracão cala-se, em choque. Começa a virada de João Jorge para se transformar em Joãosinho. No palco do Municipal, Matheus confessou que estava ansioso. “Em São Paulo, quando a gente fica assim, as pessoas mandam pentear macacos. Não tenho macaco, mas tenho dez cachorros na minha casa do Rio. Peguei a escova e penteei os dez.” O público veio abaixo. Todo festival termina por produzir/selecionar suas obras cults. Nenhum outro filme teve tanta procura nem as sessões lotaram tanto aqui no Rio quanto Garota Exemplar, de David Fincher, que estreou nesta quinta-feira nos cinemas brasileiros. Um filme construído sobre o princípio da incerteza, em que nada é conclusivo e que transfere essa responsabilidade (da conclusão) para o público. Magnífico.

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