Filme recuperado traz de volta o Rio dos anos 20

Descobertas em um depósito do Jockey Club, imagens raras mostram o Corcovado ainda sem o Cristo Redentor, os bondes na Rua do Jardim Botânico e uma desabitada Lagoa Rodrigo de Freitas

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Por Agencia Estado
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"O novo hipódromo do Jockey Club está situado no mais belo e pitoresco recanto da cidade; com 250 boxes, obedecendo aos melhores princípios de higiene e de conforto", diz o narrador, no início do século passado. O filme, com imagens raras em 35 milímetros da zona sul do Rio, estava abandonado em um depósito e foi recuperado pelo pesquisador Antônio Venâncio. Momentos da construção do Jockey e sua inauguração, na Gávea, em 1926, com a presença do presidente da República Arthur Bernardes, estão documentados. Há imagens do Morro do Corcovado ainda sem a estátua do Cristo Redentor, que só seria inaugurada em 1931, da região da Lagoa Rodrigo de Freitas praticamente sem residências e da Rua Jardim Botânico com tráfego de bondes. "É um material precioso, fantástico. E mostra que problemas atuais já existiam na época, como nas imagens de obras de saneamento na lagoa", diz Venâncio. O historiador Milton Teixeira, professor da Universidade Gama Filho, afirmou que não tinha conhecimento de imagens do Morro do Corcovado sem a estátua, a não ser em fotografias. "Sobrou muito pouca coisa anterior a 1930 no acervo do Arquivo Nacional, porque os filmes não se conservavam e muitas vezes eram jogados fora." As obras na lagoa foram iniciadas pelo então prefeito Carlos Sampaio, que cedeu a área para a construção do Jockey, considerado "um marco da arquitetura" por Teixeira. "A partir daquele momento em que foram feitas as imagens, a lagoa muda de feição. Era fétida, com apenas algumas fábricas de tecido, e acabou se transformando em um local de elite, apesar de as obras de saneamento não terem sido concluídas até hoje", disse. Uma das imagens mostra a abertura do canal da Rua Lineu de Paula Machado. Restauração - Os negativos do filme estavam abandonados e foram guardados "em condições precárias", por mais de uma década, pelo funcionário Walter Pelajo, que no ano passado informou a diretora da sede do Jockey, Ana Maria Bocayuva de Miranda Jordão, sobre a existência do acervo. Cerca de 30 latas com rolos de negativos foram levadas para a cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM), onde Venâncio - que estudou cinema nos Estados Unidos e já foi colaborador dos documentaristas João Moreira Salles e Eduardo Coutinho - iniciou o processo de restauração, com a ajuda do professor de cinema Hernani Heffner. O filme mostra personalidades da época com chapéus e trajes de gala, como Herbert Moses, que foi presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), participando da inauguração da Tribuna de Honra e assistindo à primeira corrida de cavalos. Não há registro sobre a autoria das imagens, segundo o Jockey. Todo o material - cerca de 50 minutos de imagens em película, com exceção de uma pequena parte em nitrato que acabou perdida - foi transformado em vídeo digital. O pesquisador editou um curta de dez minutos, que será exibido pela primeira vez no próximo domingo, durante o Grande Prêmio Brasil, no Hipódromo da Gávea. Getúlio - Além do filme Construção e Inauguração do Jockey, vem sendo recuperado outro, que mostra o Grande Prêmio de 1937, com a participação de Getúlio Vargas, realizado meses antes da decretação do Estado Novo. "Estava tudo abandonado, jogado num canto. No primeiro momento, foi recuperar as imagens. Agora, vamos pensar o que fazer com o material e não descartamos a possibilidade de lançar um DVD", disse a vice-presidente do Jockey, Beatriz Lemgruber. Como contrapartida pelo trabalho de restauração, que está sendo pago por Venâncio, ele poderá usar algumas imagens em um documentário sobre o Cristo Redentor, que está produzindo com a diretora Bel Noronha.

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