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Filme reconstrói trajetória de judeus no Recife

Por Agencia Estado
Atualização:

Há seis anos, a cineasta pernambucana Kátia Mesel pesquisa o período em que o Brasil (ou parte dele) foi holandês (1630-1654). Depois de três viagens à Holanda e de consultas a arquivos portugueses e brasileiros, ela chegou à versão definitiva do roteiro de O Rochedo e a Estrela, projeto orçado em R$ 7,8 milhões. A cineasta já conseguiu parcerias com as empresas Animatógrafo e Costa do Castelo, ambas lusitanas. No Brasil, o projeto está credenciado nas leis Rouanet e do Audiovisual. O governo de Pernambuco e as prefeituras do Recife, de Olinda, Cabo de Santo Agostinho, Igarassu e Itamaracá já prometeram apoio. O Sebrae, organismo de fomento a pequenas empresas, patrocinará 12 oficinas de formação de mão-de-obra (cerâmica, tecelagem, funilaria, envelhecimento de objetos, figurinos, etc). Todos os artesãos (a intenção é ter 200 aprendizes e 40 instrutores) produzirão material cenográfico para o longa. "Pelo meu cronograma realizaremos as oficinas até outubro. Nesta época, iniciaremos as filmagens, que devem ser concluídas no primeiro semestre de 2003. Calculo que consumiremos cinco meses nas filmagens, pois 20% da narrativa terá Portugal como cenário (a cidade de Óbidos se passará pela Olinda do século 17) e 5% se ambientará em Nova York. Os 75% restantes serão realizados em Olinda e outros municípios pernambucanos", diz Kátia. A cineasta pretende utilizar o restante do ano de 2003 na finalização. "Se tudo der certo, o filme estará pronto no começo de 2004, para participar dos festejos pelo quarto centenário de nascimento de Maurício de Nassau (1604-1679)." Flash-back - A história de O Rochedo e a Estrela começa em Nova York, nos dias de hoje e, em longo flash-back, retorna a 1550, quando desembarcaram no Recife os primeiros judeus convertidos (cristãos novos) avançando até 1654, quando - finda a experiência do Brasil holandês - dá-se a expulsão de integrantes da comunidade judaica recifense. Kátia conta que, "com o fim do governo de Nassau, no qual havia liberdade de culto religioso, parte dos judeus do Recife foi para Nova Amsterdã (atual Nova York) e integrou-se à primeira colônia judaica nos EUA". A diretora pretende abrir o filme com prólogo ambientado na Nova York contemporânea. "Estaremos no presente e encontraremos um judeu norte-americano (a intenção é escalar ator de Hollywood para o papel) procurando sua origem. Ele descobrirá que seus ancestrais vieram de Pernambuco e viajará para o Recife em busca de informações sobre suas origens. "Meu roteiro se passa em três épocas. Além do prólogo contemporâneo, o filme se reportará a 1550, tendo dois cristãos novos de existência real (o poeta Bento Teixeira, autor do épico Prosopopéia, e Branca Dias, mulher de Diogo Fernandes, que trouxe a cana-de-açúcar à capitania de Pernambuco) como personagens centrais. Por manterem ligações com a cultura judaica, os dois serão perseguidos pela Inquisição." A terceira parte do filme mostrará o período áureo dos judeus no Recife, durante o governo do príncipe Maurício de Nassau. Foram anos de muitos empreendimentos. Homem culto e preparado para a administração, o governador do Brasil holandês se fez cercar de intelectuais e artistas. Mandou plantar 2 mil árvores no Parque de Friburgo (hoje Praça da República), criou o Horto Florestal e o Jardim Zoológico, encomendou a Pieter Post, amplo projeto de intervenção urbana, do qual o Recife contemporâneo ainda guarda importantes vestígios e mandou desenhar mapas e publicar livros sobre a "Nova Holanda" nos trópicos. Quando os portugueses derrotaram os holandeses e reassumiram o controle total da colônia, destruíram muito do que o invasor edificara. Com a reconquista da região pelos portugueses, os judeus tiveram prazo de três meses para deixar o Recife. Muitos se esconderam no interior de Pernambuco. Centenas deles partiram em 26 barcos rumo a Nova Amsterdã. Spielberg - Kátia Mesel espera contar com apoio da Fundação Shoah, comandada por Steven Spielberg. "Ajudei a Fundação Shoah a colher, no Recife, depoimentos de judeus pernambucanos sobre o Holocausto e como a fundação tem interesse por temas que recuperem a história dos judeus, creio que me ajudará na produção de O Rochedo e a Estrela." A cineasta pernambucana procura, também, apoio de produtores holandeses e parceiros brasileiros. Quem quiser investir em seu primeiro longa deve manter contato com a produtora Arrecife pelo tel. (81) 3231-6443 ou e-mail: arrecife@hotlink.com.br.

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