Gustavo Rosa de Moura percorreu o Brasil inteiro e Portugal para fazer o documentário mais inusitado da recente safra brasileira. Piadeiros é um filme de estrada sobre a busca por pessoas que contem piadas. O diretor incorpora o próprio processo. Documenta como ele não foi fácil. Poucas mulheres, por timidez ou o que, contam piadas, pelo menos em público. A correção política também pode estar acabando com as piadas racistas ou homofóbicas, mas de novo é uma questão de público e privado. Na intimidade, pessoas admitem que contam piadas que, em público, não cairiam bem.
Moura descartou de cara os piadistas profissionais, vulgo humoristas. Mas entrevistou um em Portugal que levanta questões interessantes. Uma é obviedade. O importante na piada não é ela, em si, mas a forma como é contada. Pode-se rir de uma piada contada por uma pessoa e não achar graça nenhuma na mesma piada contada por outra. E ele diz mais. A mesma piada pode ter diferentes versões. Uma piada de ‘português’, pejorativa como costuma ser, pode ganhar uma versão de ‘brasileiro’. É tudo uma questão de ponto de vista. Os portugueses adoram essas piadas.
Piadeiros é divertido, mesmo que, em certos momentos, a piada, tal como é contada, não renda, ou não renda tanto. João Guimarães Rosa gosta de dizer que a piada é como o fósforo, que, deflagrado, perde o uso. Moura prefere vê-la como uma forma de arte, remetendo à tradição oral. Não por acaso, Moura dirigiu antes outro documentário, Cildo, sobre o artista Cildo Meireles, que é bem engraçado refletindo sobre a própria obra.