Filme 'Perdidos em Paris' marca a despedida de Emmanuelle Riva

Dupla de diretores Dominique Abel e Fiona Gordon destaca a contribuição da grande atriz a seu longa

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:
Cena do filme Perdidos em Paris Foto: Pandora Filmes

Para o cinéfilo de carteirinha, o nome de Emmanuelle Riva é mágico. Evoca um dos maiores filmes do cinema – Hiroshima, Meu Amor, de Alain Resnais, 1959. É possível lembrar outros trabalhos destacados – Kapò, de Gillo Pontecorvo; Thérèse Desqueyroux, de Georges Franju; e Amor, de Michael Haneke. Emmanuelle morreu em 27 de janeiro deste ano, aos 89 anos. A partir de hoje, poderá ser (re)vista em seu último papel, no filme Perdidos em Paris, da dupla Dominique Abel e Fiona Gordon.

Ambos dirigem, interpretam e assinam o roteiro. São casados – na arte e na vida. E vieram ao Festival Varilux justamente para divulgar Perdidos em Paris. No Rio, num encontro com o repórter, Fiona contou – “Todo mundo ficou surpreso, e a próprias Emmanuelle também, quando a convidamos para nosso filme. Emmanuelle é tão identificada com o drama que nós mesmos hesitamos um pouco. Afinal, é uma comédia... Mas ela superou nossa expectativa e foi de uma entrega absoluta. Emmanuelle trouxe sua personalidade e isso mudou completamente a forma como víamos a personagem. Emmanuelle era uma mulher altiva e independente. Nunca teve filhos porque queria se dedicar a seus amores, o teatro e o cinema. E ela abriu sua casa, que virou a casa da personagem. Perdidos em Paris é sobre essa mulher que recebe uma carta da velha tia que não vê há muitos anos. Ela necessita de ajuda, mas se esquece de fornecer o endereço. A personagem de Fiona desembarca em Paris e, por sua vez, ganha ajuda de um tipo bizarro (Abel) na tentativa de localizar a tia – Emmanuelle Riva. Abel e Fiona cultivam um tipo de humor que parece em desuso – ou será eterno? Um humor mais gestual que verbal, com ecos do cinema silencioso – e Charles Chaplin. Algo na cidade também evoca Jacques Tati, e seu M. Hulot.  Abel e Fiona descobriram suas afinidades na escolas de artes (e cinema). Começaram a trabalhar juntos, e só bem depois vieram o amor e o casamento, consolidando a união que já era artística. Fiona explica o método dos dois – “A gente nunca tem a impressão de estar ‘interpretando’. O que fazemos é mais visceral para a gente. Colocamos na tela nossas virtudes e fraquezas. Então não dá para chamar outro para dirigir. Temos de ser nós.” Abel complementa – “É a mesma coisa na escrita. “Estamos acostumados a fazer tudo. Escolhemos as cores, os enquadramentos, planejamos as falas, os gestos. Então, também temos de escrever o roteiro.”

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