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Filme palestino emociona a plateia da Mostra com garoto cantor

O diretor Hany Abu Assad, que tratou de terrorismo em 'Paradise Now', agora, em 'O Ídolo', prefere abordar história terna de menino que solta a voz

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Havia espectadores chorando, incluindo o repórter, no final da sessão de O Ídolo, de Hany Abu Assad, no sábado à tarde, no Cinearte 1. O longa do autor palestino terá novas sessões (no plural), nesta segunda, 31, na Mostra. Era tanta emoção que alguns espectadores reclamavam do teto de 5 como avaliação máxima – queriam dar 10. Alguém dirá que emoção demais embota o raciocínio, e por isso mesmo aquele senhor, Bertolt Brecht, pregava a necessidade de distanciamento (crítico). Abu Assad sabe disso.

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Em Paradise Now, ele nos levou – a nós, o público – numa viagem pela mente de dois terroristas numa missão suicida. A missão agora é de vida. O garoto palestino percorre um longo caminho de Gaza até Beirute para concorrer no Arab Idol. Em quilômetros, a distância talvez nem seja tão grande, mas existem a guerra, o preconceito, a fronteira. Ele é um refugiado – sem passaporte nem bilhete azul para concorrer. Arrisca-se, fica estressado, porque sabe que tem de soltar a voz – para dar voz a seu povo.

Abu Assad acredita na militância, mas seu projeto de cinema é para as massas. Um pouco disso esteve em discussão na Mostra, na sexta-feira, 28, no debate A Voz do Negro no Cinema, que se seguiu à apresentação de O Nascimento de Uma Nação. Desde janeiro, no Sundance, o longa escrito, produzido, dirigido e interpretado por Nate Parkler tem estado no centro de uma intensa discussão na ‘América’. O filme – homônimo do clássico racista de David W. Griffith, de 1915 – reconstitui a experiência de Nat Turner, que liderou um levante de escravos nos EUA, no começo do século passado.

Na contrapartida de Griffith. Nate Parker filma o nascimento de outra nação. A consciência da negritude. Desde janeiro, a informação de que ele, no passado, esteve envolvido (e foi absolvido) num caso de abuso sexual, embolou um pouco as coisas. Isso nem entrou nas discussões de sexta, na Mostra.

Jeferson De, Juliana Vicente, Thogun e Teka Romualdo, com mediação de Adriana Couto, trouxeram a dor e a revolta que Nate Parker coloca na tela para a realidade brasileira, e paulistana. Violência (da polícia), invisibilidade social. Só lamentaram que o debate, no Cinearte, tenha atingido uma plateia predominantemente branca, e de classe média. Na periferia, teria pegado fogo.

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