Filme ‘O Bandido da Luz Vermelha’ volta ao cinema em película

A iniciativa é do Cinesesc, que criou a Sessão 35 mm para “reavivar a experiência do cinema em película”

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

O Bandido da Luz Vermelha, clássico do cinema brasileiro dirigido por Rogério Sganzerla (1946-2004), volta a ser exibido em tela grande, e agora em seu suporte original, em cópia de 35 mm. A iniciativa é do Cinesesc, que criou a Sessão 35 mm para “reavivar a experiência do cinema em película”. 

Cena do filmeO Bandido da Luz Vermelha Foto: Versatti Filmes

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Assim como existem apreciadores de música que preferem os velhos bolachões analógicos, existem cinéfilos que não se conformam com o cinema digital e o consideram inferior à antiga película de celulose. Um deles era o grande diretor Carlos Reichenbach (1945-2012). Carlão dizia que, com o desenvolvimento do negativo em película, o cinema havia se aproximado da perfeição da pintura, para então regredir ao estágio do digital, para ele chapado, sem graça e sem nuances. 

Enfim, essa é uma discussão interminável. Fica a possibilidade de experimentar de novo uma obra-prima, da maneira como foi concebida por seu autor. O esplendoroso preto e branco retrata uma São Paulo em transe. O filme situa-se naquela dobra esquizoide de 1968, quando o Brasil ingressa na segunda fase da ditadura e o Cinema Novo já não é mais visto pelos jovens cineastas como porta-voz da oposição estética ao regime. 

Nesse momento, afirma-se a alternativa crítica ao Cinema Novo, chamada de “cinema marginal”, embora seus autores não gostem do título. Engloba as obras de criadores como Ozualdo Candeias, José Mojica Marins, o próprio Rogério Sganzerla, Julio Bressane e outros. 

O Bandido é paradigma da nova proposta. Baseado na vida do assaltante João Acácio, narra as aventuras do criminoso da moda, estrela dos pasquins policiais. Paulo Villaça interpreta o ladrão, que se autodefine como “boçal”. O clima todo é de esculacho e desespero, fixado numa metrópole caótica e suja, prestes a explodir. 

Sganzerla filma em tom de paródia, usando narração radiofônica, feita de humor e ironia. O trabalho de câmera é notável. Cheio de vida, sarcasmo e amargura, o filme não se resolve de maneira política. Apenas aponta para impasses e o faz com enorme talento e alegria de filmar. Um prazer para os olhos. 

O BANDIDO DA LUZ VERMELHACinesesc. Rua Augusta, 2.075, Cerq. Cesar, tel. 3087-0500.  Hoje, às 21h30. R$ 17. 

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