Filme mostra crueldade e contradições do apartheid

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Por JANET GUTTSMAN
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Na África do Sul da era do apartheid, um país em que raça significava tudo, Sandra Laing foi um caso emblemático de injustiça. Apesar de seus pais serem brancos, era rotulada como "de cor". Expulsa de um internato só para brancos, em função da cor de sua pele, mais tarde, após uma campanha de seus pais na justiça, ela foi reclassificada como branca. Mas, numa sociedade radicalmente racista, sua família a rejeitou quando ela se apaixonou por um negro e a obrigou a recomeçar sua vida. Sua história foi transposta para o cinema no filme "Skin", que foi ovacionado quando estreou esta semana no Festival Internacional de Cinema de Toronto. O filme examina questões de raça, preconceito e a era do apartheid através do olhar de uma mulher incomum. "É uma história extraordinária que me comoveu às lágrimas quando primeiro a ouvi", disse o diretor Anthony Fabian à Reuters no festival, observando paralelos entre a história de Laing e a do candidato presidencial democrata Barack Obama, filho de mãe branca e pai negro. "A história é completamente relevante. Basta olhar para o que está acontecendo na eleição americana neste momento", disse ele. "Há questões sobre raça: Barack Obama é branco ou negro? Ele é metade branco, metade negro, mas, para o mundo, será o primeiro presidente negro dos Estados Unidos." "Skin" foi filmado na África do Sul e cobre um período de 30 anos que abrange a infância de Sandra Laing, sua dolorosa ruptura com a família e a oportunidade que teve de votar nas primeiras eleições multirraciais na África do Sul, em 1994. O papel de Laing é representado por Sophie Okonedo, indicada ao Oscar por sua atuação em "Hotel Ruanda". Ao tratar de sua vida, o filme lança um olhar detalhado sobre as contradições do apartheid e como as pessoas se identificam com um grupo étnico. "Sophie é uma das poucas atrizes que tinha o visual correto para representar Sandra", disse Fabian. "Sua própria experiência de vida -- sua mãe é judia branca e seu pai é nigeriano -- é muito mais próxima da de Sandra do que teria sido a de uma atriz sul-africana de cor." Laing, que hoje tem pouco mais de 50 anos, esteve em Toronto acompanhando a estréia do filme. Foi sua primeira viagem à América do Norte. Ela disse que ficou feliz e comovida com o filme. A África do Sul mudou muito desde a época retratada no filme, mas ainda é uma sociedade com grande consciência racial. "Ainda sou de cor", disse Laing, descrevendo-se com a classificação dada na época do apartheid às pessoas de origem racial mista. Fabian ainda procura uma distribuidora para o filme nos Estados Unidos, mas já vendeu "Skin" a vários outros países, incluindo a África do Sul.

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