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Filme mostra como uma relação a três criou a Mulher-Maravilha

'Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas' conta a história de William Marston, professor de psicologia de Harvard

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

É oportuno que, nessa época de empoderamento feminino, novos filmes venham se somar a outros que já marcaram a temporada. Ótima documentarista, Emília Silveira resgata uma pioneira da TV brasileira – e mostra como muita coisa realmente começou com Edna Savaget (leia aqui sobre  o documentário ‘Silêncio no Estúdio’). Mulheres maravilhosas – nenhuma foi mais influente, em 2017, que a Wonder Woman. Tem gente que garante que o blockbuster de Patty Jenkins com Gal Gadot está por trás de todas as denúncias de assédio que abalam Hollywood. A ficção fortaleceu as mulheres e as incentivou a lutar.

Rebecca Hall,Luke Evans e Bella Heathcote em cena de Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas Foto: Claire Folger/Annapurna Pictures

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Mulher-Maravilha é um ‘case’. Em seu filme, ela arma o combate, mas é um homem – o personagem de Chris Pine – que trava a luta decisiva. Em Liga da Justiça, ela também agrega, mas se não fosse outro homem poderoso (quem?) as coisas também não se resolveriam. No o fundo, essa ‘dependência’ do macho de que as feministas radicais reclamam talvez esteja na origem da personagem.

+++ Gal Gadot volta a interpretar a Mulher-Maravilha em 'Liga da Justiça' e quer mudar Hollywood

Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas – no plural – conta a história de como a Wonder Woman foi criada, por meio de seu criador. William Marston era professor de psicologia em Harvard, casado com outra acadêmica, a também professora de psicologia Elizabeth Marston. Ela virou o arrimo financeiro da casa para que ele pudesse criar os quadrinhos com a personagem. É uma história de amor, mas nada convencional.

Professor Marston interessa-se por uma de suas alunas, Olive Byrne, e passam a viver uma situação a três. Mas não se trata da típica fantasia masculina – professor Marston e suas duas mulheres. Elizabeth chega a dizer ao marido: “Sou sua mulher, não sua carcereira”. E ele segue adiante com o affair, mas ela também se interessa por Olive e é correspondida. Como estudioso da psicologia, William se interessava por relações de poder e submissão. E ele também foi um dos criadores do detector de mentiras. É o xis da questão. O filme é sobre a verdade. Mas como ela é relativa, é sobre a verdade de cada um. Muito interessante.

Na origem, o detector de mentiras

Luke Evans, que faz o Gaston da versão ‘live action’ de A Bela e a Fera, é o professor Marston no longa de Angela Robinson. Escritora (A Vida Secreta das Fadas), roteirista e diretora, Angela é ativista do movimento LGBT, formando par com a também diretora Alexandra Kondracke. Com esse currículo, ela não está nem um pouco interessada em alimentar fantasias masculinas sobre relacionamentos múltiplos. Se no filme o professor Marston, criador da Mulher-Maravilha e do detector de mentiras (com a mulher, Elizabeth), vive a três é por motivos mais complexos. O professor pode ser bonitão, mas a aluna, Olive, é atraída por sua mulher. São interpretadas por Bella Heathcote e Rebecca Hall.

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No início, é o interesse acadêmico que introduz Olive na vida do casal. Na sequência, a atração entre as mulheres – bissexuais – aciona o triângulo. Numa cena, o casal espia Olive num ritual de iniciação. A partir daí, as sugestões eróticas tornam-se cada vez mais fortes no relato de Angela Robinson e na criação artística de William Marston. Numa época em que os quadrinhos eram demonizados – e a situação triangular de Marston provocou protestos na universidade –, é muito curioso ver como as cordas que o trio usava em suas relações sadomasoquistas juntaram-se ao detector que William e a mulher criaram (mas não patentearam).

Resultou no laço que a Mulher-Maravilha usa para obrigar as pessoas a dizerem a verdade. E ah, sim, Luke, como a diretora, é assumidamente gay. 

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