Numa entrevista por telefone, de Roma, Valeria Golino disse que gostaria muito de ter vindo ao Brasil para apresentar Euforia na recente 8 1/2 Festa do Cinema Italiano. Mas o festival de Veneza aproximava-se e ela, como atriz, estava com dois ou três filmes no Lido, incluindo o novo Costa-Gavras. Chamou-o de ‘maestro’ e disse que esse tipo de formato de cinema político, de esquerda, era fundamental num mundo que definiu como ‘horrível’, na seu turno à direita.
Euforia entrou em cartaz em paralelo com a Mostra. Corre o risco de passar despercebido. Não será justo. Atriz talentosa, com papéis importantes na Itália e até nos EUA (Rain Man, de Barry Levinson), ela estreou na direção com Miele. Reincide com Euforia. Uma ‘cronaca familiare’. Dois irmãos que seguiram caminhos diversos. Um deles rico, e com uma intensa vida social. O outro, mais modesto e intimista. Quando o segundo fica doente, vai morar com o irmão. Aproximam-se, constroem laços que nem sabiam existir.
Ao Estado, Valeria contou o que a atraiu nessa história. “Na verdade, foi a questão do afeto. E também uma questão mais delicada – qual dos dois precisa mais de ajuda? No início, parece óbvio. É o enfermo, o que tem menos direito. Mas, à medida que o filme avança, fica claro que outro irmão não é tão forte assim. Ele se fragiliza. Gosto desse tipo de relação, de drama.”
Diante de Euforia, o espectador pode se perguntar: como um filme torna-se universal? “Essa história não aconteceu comigo nem com ninguém da minha família. O ponto de partida foi a situação vivida por um amigo. De repente, eu e todo nosso grupo estávamos envolvidos. Me deu vontade de fazer um filme. Refletir sobre laços. O que, afinal, nos une?”
Euforia marca uma evolução para Valeria, como diretora/autora. É bem escrito, interpretado, realizado. Sem spoiler, o final é muito bonito, e intenso, o tipo de comunhão que ela propõe. Valeria contou que o roteiro foi escrito e reescrito muitas vezes. Por momentos, ela tinha dúvidas – mas o que nunca duvidou é sobre quem seriam seus atores.
Riccardo Scamarcio faz Matteo, o irmão que só parece mais resolvido. Valerio Mastandrea é Ettore, o ‘professore’. Valeria foi casada com Scamarcio. Separaram-se, mas ele permanece sua alma gêmea. Foram de uma grande entrega aos papéis. E Valeria contou: seguiram o roteiro, às vezes, improvisavam e depois pediam mais uma tomada, de volta ao roteiro. O comprometimento é total.