Cinemateca reabre ao público com filme 'perdido' de Zé do Caixão e 'Macunaíma' restaurado

Mostra com cinco longas de José Mojica Marins começa nesta sexta-feira, 13, e vai até domingo, com entrada franca

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Por Ubiratan Brasil
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Com a exibição ao ar livre do filme Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade, a patrocinadores na noite desta quinta, 12, a Cinemateca Brasileira volta finalmente a funcionar, depois de quase dois anos fechada. Nesse período, os prédios da instituição sofreram com abandono por parte do governo federal, alagamento e incêndios, o que resultou em prejuízo ao seu acervo, um dos mais importantes da América Latina. “Reabrimos com uma estrutura mínima para manter funcionando departamentos essenciais, como documentação e difusão”, comenta Maria Dora Mourão, diretora do espaço desde novembro de 2021, quando a Sociedade Amigos da Cinemateca (SAC) venceu o edital para assumir a gestão de mais de 40 mil títulos e um vasto acervo documental (textuais, fotográficos e iconográficos).

Fachada daCinemateca Brasileira, na Vila Clementino Foto: Werther Santana/Estadão

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O público poderá voltar a frequentar o belo espaço localizado no bairro da Vila Clementino na sexta-feira, 13,para assistir a um ciclo dedicado a José Mojica Marins, o Zé do Caixão – até domingo, serão exibidos filmes do cineasta, começando com uma pérola: A Praga, média-metragem inédito de 1980 que foi restaurado e finalizado pelo produtor Eugenio Puppo, que encontrou as latas do filme perdidas no escritório do cineasta, quando organizava, em 2007, uma retrospectiva do mestre do terror. “Escolhemos o Mojica porque sua irreverência atrai os jovens, um público que nos interessa muito”, explica Dora. “E Macunaíma foi selecionado por ser o longa, entre os restaurados, que está em melhores condições.”

Retomar a importância da Cinemateca como espaço difusor de ideias é um dos principais interesses de seus gestores – no dia 25, por exemplo, começa a Semana & Prêmio ABC 2022, evento que apresenta novas tendências e tecnologias, com conferências, painéis e debates para profissionais de diversas áreas do setor. “É também um aceno para a classe.”

Quando assumiu a direção junto com a SAC, depois de 16 meses em que a Cinemateca ficou inoperante por conta, principalmente, de nefastas atitudes administrativas do governo federal (além de atraso de salários, houve a demissão de profissionais gabaritados), Dora Mourão e equipe precisaram armar um plano de ação a partir da condição em que ficou a instituição. “Nossa primeira missão foi descobrir como estava a situação da infraestrutura e do parque tecnológico”, comenta a diretora técnica Gabriela Sousa de Queiroz, que começou na Cinemateca em 2004, como voluntária. “Nesse período, passamos pela pior crise administrativa da história da instituição.”

RAROS. O primeiro problema foi dividir as tarefas – hoje, a instituição conta com 43 funcionários, quando o ideal seria o triplo de profissionais, como antes. Mesmo assim, nenhuma área ficou descoberta. Um dos acervos mais delicados, o de filmes em nitrato, por exemplo, que têm alto potencial de combustão e são de fácil deterioração, ocupa quatro câmaras devidamente refrigeradas. Em uma delas, estão os rolos em melhor estado e, em outra, os que correm risco de perda total. “São mais ou menos 3 mil rolos no total, com filmes produzidos desde 1913 até o final da década de 1940 e início da de 50”, conta Gabriela, que controla também a conservação dos longas rodados em acetato. “Falta remontar totalmente o laboratório de restauro.”

Do incêndio ocorrido em julho, no prédio localizado na Vila Leopoldina, cerca de 20 mil rolos foram resgatados e hoje estão acondicionados em quatro contêineres. “Perdemos muitos documentos em papel e aquele espaço, por ora, não será reutilizado”, conta Dora, que tem recebido apoio do secretário especial de Cultura, Hélio Ferraz de Oliveira, algo surpreendente se comparado com a má vontade dos antecessores. “Ele nos ajuda a desfazer os nós da burocracia pública. Sem isso, talvez não tivéssemos como reabrir agora a Cinemateca.”

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