Filme francês reacende polêmica sobre a censura

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Por Agencia Estado
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É o assunto da hora no meio cultural europeu: a censura voltou a ter vez na liberal França? O pivô da polêmica é um filme intitulado c (título que não pode ser traduzido em publicações de família; um equivalente atenuado seria algo como Me ame), tirado de um best seller homônimo de Virginie Despentes, que assina a adaptação com Coralie Trinh Thi. Quem viu, diz que o longa-metragem fica naquela zona fronteiriça entre o erótico e o pornográfico, e foi confinado a uma única sala em Paris, a MK-2 Odéon, consagrada à projeção desse tipo de cinema, digamos assim "estimulante". A ordem partiu diretamente do Conselho de Estado francês. A revista Nouvel Observateur abre várias páginas ao assunto, faz uma análise crítica do filme, entrevista as atrizes Raffaela Anderson e Karen Bach, e relembra que a polêmica não é nova. Já acontecera por ocasião do lançamento de Romance, de Catherine Breillat, exibido no Brasil, e que mostra cenas explícitas de sexo. A discussão é a mesma, pois são obras que não se admitem diretamente pornográficas. Reivindicam status de arte e exigem, para o cinema, a mesma tolerância com a sexualidade de que dispõem outras formas de expressão, como a literatura. O confinamento de Baise-moi ao MK-2 Odéon foi decidido com inesperada rapidez pelo em geral moroso Conselho de Estado francês depois da pressão exercida por André Bonnet. Magistrado de 44 anos, pai de oito filhos, Bonnet dirige uma instituição chamada Promouvoir, cuja finalidade é "promover os valores judaico-cristãos e obstaculizar o incesto, o estupro e o homossexualismo". Entrevistado pela imprensa francesa, Bonnet disse que o confinamento não era um ato de censura. Quando lançado, algumas semanas atrás, o filme era simplesmente proibido para menores de 16 anos. Para aumentar a idade-limite para 18 anos, a única forma legal disponível era a classificação X. Como há uma única sala nessas condições em Paris, e umas quatro ou cinco no resto do país, a rubrica significou reduzir a exibição a praticamente zero. O próprio ministro da Educação, Jack Lang, que alega não ter visto Baise-moi, disse que a classificação X é a sua condenação à morte. Inconformada, parte da intelectualidade parisiense decidiu acorrer em massa ao cineminha pornô. Surgiram manifestos e abaixo-assinados, firmados por gente famosa, Jean-Luc Godard à frente. Em entrevista ao italiano Corriere della Sera, a diretora Catherine Breillat disse que "não se trata de defender uma obra em particular, mas o próprio princípio do direito de expressão". Afinal, pensa ela, vai ao cinema quem quer.

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