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Filme expõe técnicas de "Segredos e Mentiras"

Por Agencia Estado
Atualização:

E afinal Mike Leigh não é tão bom quanto parecia na época de Segredos e Mentiras. Por aquele filme, ganhou a Palma de Ouro e o prêmio da crítica em Cannes e ainda foi indicado para o Oscar nas categorias de filme, direção e atriz (Blenda Blethyn). Depois veio Garotas de Futuro, que está saindo em vídeo pela Europa, no selo Cannes. Um filme apreciável, mas não grande. O mesmo pode-se dizer de Topsy Turvy, o Espetáculo, que estréia nessa sexta. De novo Mike Leigh foi indicado para o Oscar, em março passado - e ganhou duas estatuetas, nas categorias de cenografia e figurinos. É um filme certamente bonito de ver, mas também exige certo sacrifício. Dura quase três horas (2h40), que pesam. A narrativa carrega nos detalhes que mais atravancam do que fazem evoluir a narrativa. Há uma descrição minuciosa sobre como se faz um figurino no teatro, por exemplo. A rigor, é supérfluo - pelo menos no sentido hollywoodiano de valorizar a fluência narrativa. Mas esses detalhes revelam o que é o verdadeiro discurso do novo filme de Mike Leigh. É um veterano com 30 anos de carreira, iniciada em 1971, com Bleak Moments. Mas Leigh só existe para o espectador brasileiro desde 1993, quando Naked deu a David Thewlis o prêmio de melhor ator em Cannes. Vieram depois Segredos e Mentiras em 1995, Garotas de Futuro em 97 e Topsy Turvy em 99. Um filme a cada dois anos. O atual conta a história de Gilbert e Sullivan, uma das duplas mais famosas do teatro inglês, no século passado. Um libretista, o outro músico, lotavam os teatros de variedades com seus espetáculos. Começa, assim, com uma estréia da dupla. O teatro quase vem abaixo quando Sullivan toma seu lugar à frente da orquestra. O espectador viu como esse homem precisou vencer a dor para chegar ao teatro. O público diverte-se, aplaude bastante, mas quando vem o jornal o crítico destaca que o sucesso é garantido, a peça vai ficar anos em cartaz, mas em seguida joga a bomba - Gilbert e Sullivan estão falidos como criadores, repetem-se até a banalidade. Pressionado pelo sentimento de finitude, Sullivan quer mudar, compor uma ópera séria. Boa parte do filme trata das desavenças dele com o parceiro, até a escolha de um assunto que agrada a ambos, como tema de um novo espetáculo - uma opereta japonesa. É nessa segunda parte, os preparativos do espetáculo, que o filme diz a que veio. Leigh é famoso por seu método de filmagem. Ele escolhe um tema e trabalha durante meses com os atores, criando simulações, personagens, construindo uma história, enfim. Depois, quando o ator domina o personagem e a história está esquematizada, ele filma. O interesse de Topsy Turvy está em expor o método de Leigh, mistura de organização e improvisação. É o que ele faz na segunda parte do filme (a melhor). É fascinante e ajuda a entender porque Jim Broadbent, que faz Gilbert, foi o melhor ator em Veneza.

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