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Filme exibe dificuldade de convivência

Uma das intenções de Tizuka Yamasaki em Gaijin 2 é exibir a dificuldade de convivência entre culturas distintas

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma das intenções de Tizuka Yamasaki em Gaijin 2 é exibir a dificuldade de convivência entre culturas distintas. Sofrendo as conseqüências da crise econômica, muitos imigrantes japoneses buscam o caminho inverso de seus ancestrais, ou seja, viajam de volta ao Japão em busca de bons salários, para fazer um pé-de-meia e depois abandonar de novo seu país. São os chamados dekasseguis (trabalhadores temporários), que somam cerca de 250 mil pessoas, e respondem pela remessa anual ao Brasil de US$ 2,5 bilhões, valor superior ao orçamento anual de muitas cidades brasileiras. "Quero mostrar tanto a convivência pacífica dos povos, que aconteceu quando imigrantes de diversos países vieram ao Brasil no século passado, como a valorização das raízes pessoais, o que acontece hoje, em um mundo que se diz globalizado", comenta Tizuka, que está filmando a seqüência de Gaijin. Apesar da ascendência nipônica, ela reafirma sua brasilidade. "Além das riquezas naturais, nosso país oferece um bem muito caro, que é a possibilidade de povos de diferentes culturas viverem juntos." Ela conta uma curiosa passagem de sua visita ao Japão, onde acertou os detalhes da filmagem que acontece no próximo mês. "Sempre ouvi minha mãe e minha avó pedindo para eu me comportar como uma mulher japonesa, ou seja, abaixando a cabeça em sinal de respeito, especialmente na presença de homens", comenta a cineasta, que sempre desdenhou os conselhos maternos. "Pois bem tentei fazer isso no Japão, mas fui mal interpretada, pois acabava sempre ridicularizada e até desprezada por esses gestos." Aperto - Assim, a solução foi agir como de hábito, ou seja, como uma descendente nascida em outro país - Tizuka voltou a desconcertar os orientais com seus gestos ocidentais, ou seja, mirando o olho dos homens, além de lhes apertar as mãos com força. "Também não falei mais em japonês, deixando a tarefa para a intérprete." Com isso, conta a cineasta, o respeito foi reestabelecido. "Apesar de ser realmente japonesa por não ter sangue misturado, todo o meu gestual é ocidental. Percebi então que, enquanto eu apresentava dúvidas quanto à minha identidade, fui maltratada; portanto, vi que era melhor me portar como brasileira." Uma das experiências que pode ser a mais marcante nas filmagens no Japão vai envolver Aya Ono, uma imigrante japonesa de 74 anos que vive no Brasil desde os 5, mas ainda mal fala o português. Ela foi selecionada para o papel de Titoe já velhinha (batyan, que significa "vovozinha") quando estava na fila dos candidatos a figurante. Adotada pela equipe de produção como um verdadeiro mascote, Dona Iaiá, como é conhecida, nunca voltou ao seu país de origem e Tizuka, depois de um momento de dúvida, decidiu levá-la ao Japão no próximo mês. "Dependia da projeção de custos, mas ficou resolvido que ela vai, pois já tenho até a cena em que a Aya vai participar", conta a diretora. "Vamos filmá-la conversando com a estátua do imigrante, que está no porto de Kobe, virada para o mar. Ela vai dizer que, apesar de ter nascido lá, prefere voltar para sua casa que, agora, fica em outro país." Desânimo - Dona Iaiá ainda não sabe que vai voltar ao Japão depois de quase 70 anos e a notícia deverá reanimar seu ânimo - depois de encerrada a filmagem na cidade cenográfica, que recriou a vila japonesa Kurumé onde nasceu a personagem principal, ela ficou deprimida, porque sentiu falta do burburinho provocado pelos atores e pela equipe de produção. "A situação de Aya Ono confunde-se com a da personagem Kyoko que, por sua vez, é a mesma da minha mãe, Sumiko, que voltou para o Japão como uma dekassegui", conta Tizuka. "Ela provou das dificuldades de conviver com culturas distintas, que é o tema do filme e de sua própria produção", comenta Tizuka que, antes de viajar para o Japão, vai gravar cenas aéreas da região do Tocantins. Uma prova disso está na escalação do elenco do novo filme, formado por atores de diversos países, encabeçado por astros como a nipo-americana Tamlyn Tomita no papel de Maria e o cubano Jorge Perugorría, que interpretará seu marido Gabriel. Tamlyn ficou conhecida graças à sua participação em Karatê Kid 2 e Perugorría já filmou no Brasil, participando de Estorvo, de Ruy Guerra, e Navalha na Carne, de Neville de Almeida. Vai aparecer no filme de Tizuka a atriz canadense Nobu McCarthy, que atuou em Adeus a Manzanar e morreu em Londrina, em abril aos 67 anos, participando da etapa de filmagens brasileiras de Gaijin 2. Completam o elenco e os brasileiros Luís Melo, Louise Cardoso, Zezé Polessa e Mariana Ximenez. A equipe de produção é basicamente a mesma do primeiro Gaijin, a começar pelo produtor Carlos Alberto Diniz, a diretora de arte Yurika Yamasaki e o fotógrafo Edgar Moura. Com recursos diversos (empresas particulares, estatais e investimentos próprios) conseguidos por meio das leis de incentivo e isenção fiscal, Tizuka Yamasaki contou ainda com o auxílio da prefeitura de Londrina e de doações de objetos de época feitas por representantes dos imigrantes da região. A primeira cópia de Gaijin 2 deve sair em novembro e o lançamento está previsto para o início do próximo ano.

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