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Filme evoca Crime da Rua Cuba

Condenado à Liberdade, de Emiliano Ribeiro (As Meninas), trata de um filho (André Gonçalves) acusado de matar os próprios pais. Só que ele não é culpado e o espectador sabe disso. Esteticamente, parece um subproduto de Hollywood, um policial fake, mas Ribeiro diz que sua intenção era crítica

Por Agencia Estado
Atualização:

Emiliano Ribeiro sabe que a associação é inevitável: seu filme Condenado à Liberdade, que estréia nessa sexta-feira, com 38 cópias em 20 cidades do País, evoca o Crime da Rua Cuba, um dos mais famosos da crônica policial paulistana nos anos 80. O filho que mata os pais, para ele, é Édipo, pura tragédia grega. E Condenado à Liberdade trata de um filho (André Gonçalves) acusado de matar os próprios pais. Só que ele não é culpado e o espectador sabe disso. Ribeiro é o diretor de As Meninas, quando substituiu Davi Neves no projeto que este não pôde concluir. As Meninas não era de todo ruim. No Festival de Havana, chegou a ganhar o prêmio da crítica. Justamente em Cuba, Ribeiro e o produtor Cláudio Moletto, da Ipê Filmes, tiveram acesso ao roteiro de Cláudia Furiati, que havia sido premiado num dos eventos paralelos ao festival. O roteiro foi escrito por Cláudia numa oficina coordenada por Gabriel García Márquez. Foi reescrito por Ribeiro e Marcos Gonzalez. Não é o Crime da Rua Cuba nem o processo de PC Farias, mas Ribeiro diz que ambos os casos reais foram referências, sim senhor. Dois pontos o atraíram no roteiro - a tragédia da adolescência e a estrutura de homem errado, que Alfred Hitchcock tantas vezes utilizou em seus clássicos de suspense. A esses dois temas, ele incorporou Pirandello - Assim É, Se Lhe Parece. Para ele, o verdadeiro tema de Condenado à Liberdade é essa mania que o brasileiro tem de olhar as coisas com verdades pré-concebidas, buscando apenas elementos para confirmar o que acha que já sabe. Vê nisso a origem da impunidade que grassa no País. O filme, querendo criticar a impunidade, talvez a justifique. O garoto do filme é acusado, mas o espectador sabe que é inocente. Condenado à Liberdade, vai carregar pela vida a suspeita de que é culpado. E se isso estiver ocorrendo com todo mundo que é acusado, por exemplo, de corrupção na alta política brasileira? Esteticamente, parece um subproduto de Hollywood, um policial fake como esses que passam no sábado à noite, no Supercine. Ribeiro diz que pode até ter falhado, mas sua intenção era crítica. Queria fazer um retrato de uma determinada sociedade, representada pela corrupta família Vilena, ao gosto da sociedade retratada. Ele é contra a síndrome de Orlando que parece dominar a burguesia e a classe média, mas seu filme não tem força para implodir, desde o interior, o que tanto horroriza o diretor. Condenado à Liberdade. Drama. Direção de Emiliano Ribeiro. Br/2000. Dur. 86 min. 16 anos

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