Filme de Sokurov cria expectativa em Cannes

Produção de quase duas horas em plano-contínuo, Russian Ark compete, entre outros, com Sweet Sixteen, de Ken Loach, Spider, de David Cronenberg, e 10, de Kiarostami

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

A Croisette é uma fogueira de vaidades. Como na entrega do Oscar, os críticos e jornalistas têm seus preferidos e costumam reclamar das escolhas do júri. A diferença, e põe diferença nisso, é que o Oscar é uma festa do cinema norte-americano, na qual os estrangeiros são penetras, e Cannes é a grande vitrine do cinema mundial. Não por acaso, ocorre na França, o país que mais tenta fazer frente à hegemonia avassaladora de Hollywood nos mercados de todo o mundo. O Brasil estará presente de várias formas na Croisette: Walter Salles, hoje o diretor brasileiro mais prestigiado internacionalmente, participa do júri que vai entregar a Palma de Ouro na noite de encerramento do 55.º Festival International du Film, no dia 26. Cidade de Deus, que Fernando Meirelles adaptou do livro de Paulo Lins, integra a seleção oficial e passa, fora de concurso, no Palais du Festival (a sessão será no sábado à noite). Na segunda, Karim Ainouz mostra Madame Satã na mostra Un Certain Regard e concorre, como diretor estreante, à Câmera de Ouro. E há os curtas: Um Sol Alaranjado, de Eduardo Valente, integra outra mostra importante, a da Cinéfondation, e o curta de Walter Salles, A Saga dos Guerreiros, passa na Quinzena dos Realizadores. Que mistérios reservará Manoel de Oliveira, o mais velho (94 anos) diretor do mundo em atividade? Só o título do seu novo filme, O Princípio da Incerteza, já estimula a curiosidade. Marie-Jo et Ses Deux Amours deve continuar com o discurso antiglobalização que o diretor Robert Guédiguian já desenvolveu em A Cidade Está Tranqüila - e a cidade, ao contrário do título, não está nada tranqüila -, seu belo filme que é um dos grandes lançamentos deste ano em São Paulo. Guédiguian não estará sozinho nessa cruzada. Afinal, Ken Loach estará em Cannes mostrando Sweet Sixteen e sempre se pode esperar consciência social e política de Mike Leigh. O diretor que ganhou a Palma de Ouro por Segredos e Mentiras concorre por All of Nothing. Kiarostami, o magnífico, concorre com 10 e ele também ganhou a palma, com o admirável O Gosto da Cereja. Ainda desconhecidos no Brasil, os irmãos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne poderão repetir o feito de três anos atrás, com Rosetta, ganhando nova palma por Le Fils. Qual seria a surpresa? David Lynch adorou Rosetta, aliás, é impossível deixar de gostar de Rosetta, embora possa surgir algum maluco por aí capaz de contestar obra tão densa e rica. Roman Polanski tentará mostrar que ainda é o tal com The Pianist e Lynch, vale lembrar, tem o diretor de Chinatown em altíssima conta. Expectativa - A expectativa talvez seja maior por Punch-Drunk Love. Depois de Boogie Nights - Prazer sem Limites e Magnólia, Paul Thomas Anderson é uma voz dissonante, que não pode mais ser ignorada, em Hollywood. David Cronenberg, sempre intrigante, está na disputa e com um filme sugestivamente chamado Spider (Aranha). Cronenberg terá feito seu homem-aranha para contestar o de Sam Raimi? Aguardem a resposta. Qualquer um deles poderá ganhar, mas o filme que, antecipadamente, chegará à Croisette cercado da mais alta expectativa é Russian Ark. Alexander Sokurov, o autor de Moloch, criou uma câmera especial para fazer, em digital, um filme de duas horas em plano-contínuo. Não há um corte na arca russa, que radicaliza a experiência de Alfred Hitchcock em Festim Diabólico.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.