Filme de Shinji é "oração ao homem moderno"

Estréia nesta sexta Eureka, produção que deu ao cineasta japonês de Desert Moon o prêmio da crítica em Cannes no ano passado

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Por Agencia Estado
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Um ônibus municipal é seqüestrado, em uma manhã quente de verão, na cidade japonesa de Kyushu. Do violento confronto com a polícia, somente três pessoas sobrevivem: o motorista, Makoto, uma estudante, Kazue, e seu irmão mais velho, Naoki. O trauma, que modifica completamente a vida do trio e lança questões sobre o colapso familiar, é o tema do filme Eureka, que estréia amanhã, em São Paulo. "Trata-se da história de várias pessoas desestabilizadas por um drama do destino", explica o diretor Aoyama Shinji. Com o filme ele recebeu o prêmio da crítica internacional no Festival de Cannes de 2000. A recepção não foi a mesma, porém, em maio, quando Desert Moon, seu novo filme, foi recebido com reservas no mesmo festival. Eureka, segundo ele, traça seus caminhos como uma jornada da alma. Depois de ter desaparecido após o seqüestro, por estar traumatizado, Makoto volta à cidade dois anos depois, quando encontra os irmãos vivendo sozinhos. O motorista junta-se a eles, assim como um primo das crianças, organizando uma família. "Na dor, essas pessoas se movem lentamente buscando formar um tipo de círculo familiar, no qual conseguem encarar o horror da experiência compartilhada", conta Aoyama que, na busca de fazer um filme em seu estado mais elementar, escolheu contar a história em preto-e-branco (na verdade, sépia, pois foi utilizada película colorida). Para Aoyama, Eureka é como uma oração para o homem moderno, que busca coragem para continuar a viver. Segundo ele, o número quatro tem um papel fundamental no filme: são quatro personagens principais, além de quatro túmulos. Quatro também é o número das rodas dos ônibus que conduzem os personagens. Em japonês, o número quatro é pronunciado "shi", que também pode significar morte. Quatro também representa a família tradicional (dois pais, dois filhos). "Mas, nos últimos anos, a tradição familiar desintegrou-se e esse número ideal deixou de ter seu significado", comenta o diretor, que concedeu a seguinte entrevista, por e-mail. AE - Eureka é uma resposta. Qual seria então a pergunta? Aoyama Shinji - A questão que eu coloquei no filme é "como podemos (ou deveríamos) viver?". Creio que a resposta não está na história, mas no coração das pessoas que assistirem ao filme. Em seus outros filmes, o senhor contou histórias sobre pessoas que vivem à margem da sociedade. Por que adotou um estilo diferente para "Eureka"? Se os personagens dos meus outros filmes são considerados deslocados sociais, então os de "Eureka" também o são. No entanto, creio que isso está oculto em um nível inativo. O senhor escreveu, dirigiu, editou e compôs a música do filme. Por que tal controle? Nunca executo essas tarefas sozinho. Sempre que faço uma ou outra atividade, estou, na verdade, colaborando com o trabalho de alguém. A razão de os créditos no filme levarem meu nome é para especificar que, apesar de eu trabalhar dessa forma, todas as responsabilidades e decisões ainda são minhas. Em "Eureka", o senhor utiliza um ponto de vista objetivo para analisar a família japonesa. Já em "Desert Moon", seu mais recente filme, porém, a narrativa é subjetiva. O senhor poderia explicar a diferença? Em Eureka, a câmera apenas acompanha a família, observando-a, enquanto em Desert Moon, ela é colocada entre o marido e a mulher, a mãe e a filha, o pai e a filha, tentando observar intimamente suas ações e participar de seu relacionamento. A câmera é mais ativa em Desert Moon.

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