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Filme de Saura já está nas locadoras

Por Agencia Estado
Atualização:

O espanhol Carlos Saura também já foi considerado o maior de seu País. Mas isso foi antes que Pedro Almodóvar tomasse de assalto o cinema da Espanha, a princípio com seu humor escrachado e marginal e hoje, na plena maturidade de seus recursos, após filmes como Carne Trêmula e Tudo sobre Minha Mãe, instalado no trono como um dos reis do cinema atual em todo o mundo. Grande Almodóvar. Eclipsou Saura, embora seja mais certo dizer que o próprio Saura se eclipsou sozinho. A prova é Goya, um filme visualmente suntuoso, mas dramaticamente débil, lançado em DVD e vídeo pelo selo Cannes. Saura fez o que não deixa de ser um ensaio surreal - a sua interpretação da vida e obra do pintor que faz parte das glórias da Espanha. Em cenas marcadas pela teatralidade, ele alterna passagens da infância, da juventude e velhice do artista interpretado por Francisco Rabal e José Coronado. Algumas cenas são interessantes, na medida em que Saura faz coexistirem, na mesma imagem, passado e presente, retomando procedimentos dramáticos que Alf Sjoberg usou em sua versão de Senhorita Júlia e depois foram repetidos por Ingmar Bergman (Morangos Silvestres) e Paul Newman (Rachel, Rachel) - embora seja difícil dizer que Bergman tenha repetido alguma coisa, de alguém. Na verdade, ele aperfeiçoou Sjoberg e Morangos Silvestres é melhor que Senhorita Júlia, por mais que esse filme desfrute de boa reputação entre os cinéfilos. Por mais que Goya seja decepcionante (e é), não é inútil assistir a esse filme e isso por dois motivos. O primeiro deles é a fotografia deslumbrante de Vittorio Storaro, um mestre da luz, aqui trabalhando num registro da cor de forma a reproduzir, na tela, as texturas dos quadros de Goya. E o outro é justamente a mais teatral das cenas, quando Saura recria a série de Goya sobre a guerra, com a valiosa contribuição do grupo Fura dels Baus. O melhor, nisso tudo, é que a chegada de Goya às locadoras coincide com a homenagem que o Eurochannel, da TVA, presta ao diretor em abril, exibindo, sempre às segundas-feiras, às 22 horas, cinco de seus filmes mais famosos. A Caça, Elisa Vida Minha, Ana e os Lobos, Cria Cuervos e Olhos Vendados. Neles se encontra o Saura intimista, por momentos surreal e sempre carregado de simbolismo, que criou universos imaginários para criticar, com dureza, a sociedade espanhola na época do franquismo. Essa morbidez, que havia no cinema de Saura, era perfeita para expressar/criticar o franquismo. Com a redemocratização da Espanha, o autor perdeu seu centro. Perdeu-se em filmes mais abertos e hoje é um pálido carbono de si mesmo.

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