Filme de Guel Arraes ameaça trono de Xuxa

O Auto da Compadecida, já visto por quase 2 milhões de pessoas, deve bater nas bilheterias nos próximos 15 dias o filme Xuxa Requebra, líder do ranking desde 95

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Por Agencia Estado
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Enquanto o Brasil deposita suas esperanças em Eu Tu Eles para garantir uma vaga no Oscar, O Auto da Compadecida é o preferido nas bilheterias. A comédia de Guel Arraes já foi vista por 1.974.784 espectadores, número que a coloca na vice-liderança no ranking dos campeões de público desde a retomada do cinema brasileiro, em 1995. O título ainda demonstra fôlego para bater o líder, Xuxa Requebra, prometendo roubar a primeira posição em, no máximo, 15 dias. Há nove semanas nos cinemas, O Auto da Compadecida continua em exibição em 100 salas espalhadas pelo Brasil - sendo que a produção de Xuxa já saiu de cartaz, totalizando 2.073.000 espectadores. Ao assumir a liderança no ranking, o filme que retrata as aventuras de João Grilo (Matheus Nachtergaele) e Chicó (Selton Mello) provará que o cinema nacional não precisa necessariamente de Xuxa, Renato Aragão e Angélica para atrair multidões às salas. A versão cinematográfica da minissérie exibida na Globo em 1999, baseada na peça homônima do dramaturgo Ariano Suassuna, já deixou para trás filmes de estrelas da TV. Entre eles, Simão - O Fantasma Trapalhão, visto por 1.658.136 de pessoas, O Noviço Rebelde (1.433.677), e Zoando na TV (911.394). "Dona Flor" é imbatível - Nas bilheterias, O Auto da Compadecida já ultrapassou a casa dos R$ 10 milhões. Seus números, tanto de renda quanto de público, são expressivos, mas ficam aquém dos obtidos no Brasil por produções hollywoodianas de peso. O blockbuster Dinossauro já acumula um público de 3.362.456 de pessoas, sendo o líder no ranking de 2000. Mesmo representando um indiscutível motivo de comemoração, O Auto da Compadecida não chega a ser um marco para o cinema nacional. Dona Flor e Seus Dois Maridos, o maior sucesso brasileiro de todos os tempos, vendeu 10,7 milhões de ingressos nos anos 70. Mas vale lembrar que, na época, a entrada era mais barata. Talvez o feito mais importante de O Auto da Compadecida seja o de representar uma parceria bem-sucedida entre cinema e televisão - uma vez que a classe cinematográfica já admitiu que o setor precisa da TV para se viabilizar. A Globo gastou R$ 2 milhões com a minissérie e mais R$ 500 mil com a finalização do longa. A maioria dos filmes nacionais ainda trabalha com orçamentos mais enxutos. "Fora da TV também seria impossível reunir um elenco de peso, com Fernanda Montenegro, Matheus Nachtergaele, Diogo Vilela, Selton Mello, Denise Fraga, Lima Duarte e Marco Nanini", destaca Guel Arraes. "Só uma emissora como a Globo pode se dar ao luxo de contratar um profissional com um semestre de antecedência. No cinema, faltando seis meses para rodar o filme, o diretor ainda não sabe se conseguirá o dinheiro.´´ Luxo da TV - Segundo Arraes, a comédia sobre dois nordestinos sem eira nem beira só deu certo nas telas por corresponder ao "luxo da TV". "É interessante observar que o público teve mais facilidade para reconhecer a qualidade do trabalho no cinema, onde as pessoas têm disposição psicológica para aceitar o produto como obra de arte", conta o diretor. O estouro da produção nas bilheterias contraria a idéia de que o fator déjà vu prejudica nas telas a performance de obra concebida para TV. O filme Gabriela, por exemplo, não foi tão bem-sucedido como a novela. "O Auto tem a seu favor uma das melhores ferramentas publicitárias, um boca-a-boca favorável. Além disso, ele é um filme-família, atraindo público de todas as idades", afirma Telma Gadioli, gerente de Marketing da Columbia, a distribuidora do título. Com quase 2 milhões de espectadores, calcula-se que O Auto da Compadecida conseguiu se pagar só com a exibição nos cinemas - transformando em lucro o retorno que a emissora teve com a passagem do produto pela TV. De olho nesse novo mercado, a Globo já desenvolve projeto de três novas adaptações para o cinema: A Invenção do Brasil, Luna Caliente e A Vida Como Ela É. "A TV está entrando no cinema, mas o cinema nacional não chega à TV", reclama o cineasta Gustavo Dahl, um dos integrantes do Grupo Executivo de Desenvolvimento da Indústria do Cinema. "A Globo raramente exibe filmes brasileiros e, quando o faz, paga pouco. Sem uma sinergia entre os dois setores, o nosso cinema nunca vai andar. Afinal, em média, o brasileiro vai ao cinema uma vez a cada dois anos e vê TV todo dia. São 38 milhões de televisores ligados diariamente contra 75 milhões de ingressos vendidos por ano."

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