PUBLICIDADE

Filme de Beto Brant vence prêmio latino em Sundance

O filme O Invasor, do cineasta paulista Beto Brant, foi o vencedor do prêmio de Cinema Latino-Americano da 20.ª edição do Festival de Sundance

Por Agencia Estado
Atualização:

O filme O Invasor, do cineasta paulista Beto Brant, foi o vencedor do prêmio de Cinema Latino-Americano da 20.ª edição do Festival de Sundance, cuja festa de encerramento ocorreu na noite de sábado na cidade de Park City, Utah. Ao receber o prêmio, Brant disse que sentia orgulhoso pela distinção, embora fosse um pouco "resistente à crueldade" de disputas assim. Além de Brant, discursou o produtor do filme, Renato Ciasca, que lembrou à platéia a trajetória do filme brasileiro, cujo roteiro recebeu prêmio da rede de TV japonesa NHK e foi desenvolvido no laboratório de roteiristas de Sundance, há dois anos. O Invasor faz uma crítica da disparidade entre as classes sociais no Brasil, por meio da história de um matador de aluguel (interpretado por Paulo Miklos, do grupo Titãs), contratado por dois engenheiros (Marco Ricca e Alexandre Borges), para eliminar o sócio da construtura em que trabalham. O filme foi exibido no último Festival de Brasília, onde recebeu os prêmios de diretor e um especial para Miklos, entre outros. "A exibição de O Invasor em Sundance foi basicamente nossa segunda sessão pública", explicou Brant, por telefone, em entrevista à reportagem do Estado. "É um reconhecimento muito bacana para mim, pois o Sundance é um lugar em que é mostrado um cinema com diversidade e originalidade de idéias", continuou. "Acredito que meu filme lida com idéias muito importantes, mostrando, de uma maneira anárquica e subversiva, como se encontra o Brasil e como funciona a divisão social paulista." Concorrentes Brant, que apresenta O Invasor também no Festival de Berlim no mês que vem, venceu filmes como Lucia, do veterano diretor cubano Humberto Solás, além das produções mexicanas Loco Fever, de Andres Wood, e De La Calle, de Gerardo Tort, e da argentina Vagón Fumador, da cineasta Veronica Chan, cuja sessão em Sundance o paulista fez questão de conferir. O júri do prêmio de Cinema Latino-Americano era formado pelo cineasta mexicano Alfoso Cuáron (de E Tua Mãe Também), o carioca Andrucha Waddington e a argentina diretora do departamento de Imprensa do Festival de Toronto. O Invasor vem a ser o quarto filme brasileiro a vencer em Sundance. No ano passado, a comédia romântica Amores Possíveis, da carioca Sandra Werneck, ganhou o Prêmio de Cinema Latino-Americano, e o documentário Maldito: O Estranho Mundo de José Mojica Marins, de André Barcinski e Ivan Finotti, recebeu menção honrosa. Em 1996, o cineasta cearense José Araújo inaugurou a boa receptividade de Sundance ao cinema brasileiro vencendo por O Sertão das Memórias. Num ano em que a seleção de Sundance teve fartura de filmes sobre a temática feminina e muitas produções dirigidas por mulheres, o júri da mostra competitiva, presidido pelo diretor John Waters, o rei do trash, surpreendeu ao deixar de lado filmes de tramas bizarras (mulher que late, secretária que apanha do patrão e viúvo que fica viciado em cheirar gasolina) para consagrar Personal Velocity, da cineasta Rebecca Miller, como o melhor filme do ano. Musa eterna Estrelado por Parker Posey (a eterna musa de Sundance), Kyra Sedgwick e Fairuza Balk, esse drama baseado em contos da própria cineasta retrata a crise que se abate na vida dessas três mulheres. Rebecca já havia vencido um prêmio especial em Sundance, em 1995, com seu filme de estréia, Angela. Mas agora, com esse sensível drama, ela é uma cineasta que chegou para ficar e não vai precisar mais se esconder da mídia, curiosa pelo parentesco e casamento famosos. Rebecca é filha do dramaturgo americano Arthur Miller e mulher do ator Daniel Day-Lewis. O filme Real Women Have Curves, da cinesta mexicana Patricia Cardoso, ficou com o prêmio de público, além de render a suas protagonistas, as atrizes America Ferrera e Lupe Ontiveros, um prêmio especial do júri de performance. A ótima Lupe está também no elenco de Histórias Proibidas, de Todd Solondz, no papel da empregada latina Consuelo. O prêmio de melhor diretor foi para Gary Winick, de Tadpole, que conta a história do amadurecimento sexual de um garoto e o desejo nutrido pela madastra. O melhor roteirista foi Gordy Hoffman, de Love Liza, longa em que o protagonista (Phillip Seymour Hoffman, de Magnolia) fica viciado em inalar gasolina depois da traumática morte da mulher. Entre os documentários, o grande vencedor foi Daugther from Danang, de Gail Dolgin e Vicente Franco, sobre refugiada vietnamita em busca da identidade. O filme inglês Bloody Sunday, de Paul Greengrass, e o italiano L?Ultimo Baccio, de Gabriele Muccino, dividiram o prêmio de público da mostra Cinema Mundial. O Sundance encerrou sua 20.ª edição sem um filme badalado pela crítica quanto Amnésia (Memento) ou um que tenha provocado pandemônio em suas sessões como Hedwig-Rock, Fama e Traição, dois dos títulos mais famosos da edição passada. "A mostra competitiva deste ano esteve inferior à de 2001", explicou Giulia D?Agnolo Vallan, selecionadora de títulos americanos para o Festival de Veneza, em entrevista ao Estado. "Até a seleção de documentários decepcionou, com muitos filmes feitos para a HBO e outras emissoras, o que ocasionou narrativas de caráter informativo e politicamente correto, para atender ao tipo de mídia em que serão veiculados."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.