Filme contundente mostra o mundo brutal dos soldados crianças

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Por JAMES MACKENZIE
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Um filme chocante, cujo elenco é feito de antigos soldados meninos da Libéria e que foi rodado nas ruas de Monróvia, retrata o caos brutal das guerras civis que vêm consumindo gerações de crianças africanas. "Johnny Mad Dog", do diretor francês Jean-Stephane Sauvaire, acompanha um bando de garotos armados de fuzis Kalashnikov e ostentando apelidos como "No Good Advice" (Nenhum Bom Conselho) "Small Devil" (Pequeno Diabo) e "Jungle Rocket" (Foguete da Selva) enquanto invadem a capital de um país africano não identificado. O elenco, formado em sua maioria por ex-soldados mirins, confere uma autenticidade quase documental ao filme, baseado no romance homônimo de Emmanuel Dongala. "Eu quis ficar muito próximo da realidade", disse o diretor à Reuters no Festival de Cinema de Cannes, onde o filme está sendo exibido. "Eu precisava falar a verdade sobre esse assunto. Não queria apenas pegar um menino, uma arma e fazer um filme de ação." Rodado em estilo dinâmico e impactante, o filme pinta um retrato angustiante de um mundo em que crianças são arrancadas de suas famílias e convertidas em matadores amorais por líderes que eles pouco conhecem. Christopher Minie, que representa o adolescente Johnny Mad Dog, e seu subordinado No Good Advice, representado por Dagbeh Tweh, intercalam brutalidade indiferente com flashes ocasionais de humanidade que traem a criança que ainda existe por baixo dos matadores de olhos gelados. "Todos os atores do filme são amadores e todos têm experiência de guerra", disse Sauvaire. "Não conseguimos imaginar esse tipo de coisa. Por isso, foi muito importante para mim rodar o filme na Libéria, com esse tipo de pessoas", disse ele. Vestindo trajes bizarros que incluem perucas coloridas, um vestido de noiva, um capacete de futebol americano e um par de asas de anjo, os combatentes, eles próprios drogados e brutalizados por seu comandante, mais velho, matam, estupram e saqueiam com indiferença. Em meio à loucura e ao terror, a menina Laokole, de 13 anos, representada por Daisy Victoria Vandy tenta salvar seu irmão mais novo e seu pai, que não tem pernas, fugindo das gangues assassinas entre prédios queimados e ruas vazias. Não existem estatísticas precisas quanto ao número de crianças recrutadas para serem soldados nos últimos anos, mas um relatório divulgado esta semana pela Coalizão para Acabar com o Uso de Soldados Crianças diz que dezenas de milhares de crianças pararam de combater desde 2004, com o fim do ciclo prolongado de guerras civis na África.

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