Filme comovente de Michael Haneke é elogiado em Cannes

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Por ALEXANDRIA SAGE
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É um tema raramente enfocado pelo cinema, mas Michael Haneke, da Áustria, nos força a enfrentar a realidade que cairá sobre nós -o fim da vida- em "Amor", seu belo e devastador filme exibido no Festival de Cannes. "Amour", nome original do filme, falado em francês, acompanha um casal idoso, ex-professores de música que desfrutam de uma aposentadoria confortável, em Paris até que Anne, interpretada por Emmanuelle Riva, sofre um derrame. "É um filme muito poderoso e um filme muito solene. Poderia quase parecer um documentário sobre esse acontecimento terrível e doloroso", disse Emmanuelle, mais conhecida por sua participação em "Hiroshima Mon Amour", de 1959, durante uma entrevista coletiva à imprensa. "É tremendamente simples e, por ser tão simples, é tão poderoso", acrescentou, falando em francês. Muitas lágrimas foram derramadas durante a exibição do filme para a imprensa, antes da estreia mundial neste domingo em Cannes, e a julgar pelos comentários entusiasmados postados pelos críticos em blogues e no twitter, Haneke já está entre os favoritos na disputa pelo prêmio principal, a Palma de Ouro. Georges, o amoroso esposo de Anne, interpretado por Jean-Louis Trintignant, luta admiravelmente para se adaptar à situação enquanto o estado de Anne se deteriora, mas Haneke é impiedoso ao nos mostrar a banalidade e tristeza da rotina diária que caracteriza a nova vida do casal. Vemos Georges ajudar Anne a ir da cama para a cadeira de rodas, a ir ao banheiro ou durante monótonas sessões de fisioterapia, e em cada situação o público é arrastado para o seu mundo, dolorosamente consciente de que a morte se aproxima. "Nada disso merece ser mostrado", diz Georges à filha Eva, interpretada por Isabelle Huppert, quando a fala de Anne se deteriora, se transformando em um balbuciar incoerente. APOSENTADORIA DE LADO Haneke convenceu o veterano ator Trintignant, de 81 anos, a abandonar a aposentadoria para interpretar Georges. Trintignant ganhou o prêmio de melhor ator em Cannes em 1969, pelo filme político "Z". "Sofri enormemente, mas… estou muito satisfeito com o nosso trabalho", disse Trintignant. "Foi doloroso, mas ao mesmo tempo muito bonito." Haneke ganhador da Palma de Ouro em 2009, por "A Fita Branca", e presença constante em Cannes, disse que seu novo filme não é um comentário sobre os idosos ou o tratamento que a sociedade dá a eles. Em vez disso, afirmou, está muito orgulhoso por fazer um filme "simples" sobre um relacionamento e seu fim inevitável.

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