Filme ambientado no Irã examina a morte por apedrejamento

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Por CHRISTINE KEARNEY
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Uma mulher iraniana é condenada injustamente por adultério, amarrada, amordaçada e enterrada na terra até a cintura, para então ser morta a pedradas numa sequência sangrenta e chocante de um filme que chega aos cinemas americanos esta semana. "The Stoning of Soraya M." (O apedrejamento de Soraya M.) é uma dramatização baseada no best-seller do mesmo título escrito por um jornalista franco-iraniano sobre a morte de uma mulher num povoado iraniano em 1986. O filme estreia em cidades norte-americanas na sexta-feira, em meio ao ultraje internacional em torno dos protestos e derramamento de sangue desencadeados no Irã pela eleição presidencial de resultados contestados. O diretor do filme, Cyrus Nowrasteh, diz que o timing não foi planejado. O objetivo é criar uma condenação dramática da prática da morte por apedrejamento, que ainda ocorre em países que incluem Irã, Afeganistão, Paquistão e Somália, disse Nowrasteh à Reuters. Nascido nos EUA e de ascendência iraniana, o diretor, que passou parte de sua infância no Irã, disse: "Basicamente, este filme trata da injustiça." "The Stoning of Soraya M." foi rodado na Jordânia e tem no elenco a atriz iraniana exilada Shoreh Aghdashloo, cuja personagem conta a um jornalista de passagem a história de sua sobrinha, assassinada depois de ser falsamente acusada de infidelidade por seu marido, que queria o divórcio. Nowrasteh disse que o filme não critica o islã ou especificamente o Irã, mas aqueles que usam a religião para seus objetivos próprios em vários países. No filme, as autoridades locais utilizam a lei islâmica sharia para incitar os moradores do povoado a se voltarem contra sua amiga e vizinha. "O filme mostra que as mulheres ainda são tratadas como cidadãs de segunda classe em vários países, e que isso precisa mudar," disse o cineasta. O chefe do Judiciário iraniano, aiatolá Mahmoud Hashemi-Shahroudi, ordenou a suspensão das execuções por apedrejamento em 2002. Em agosto do ano passado, um porta-voz do Judiciário, Alireza Jamshidi, anunciou a suspensão de algumas execuções por apedrejamento, mas desde então ele disse que os juízes individuais ainda podem ordenar apedrejamentos, enquanto as leis não forem integradas. A Anistia Internacional disse no mês passado que sete mulheres e dois homens tiveram sua execução por apedrejamento ordenada no Irã, mas que pode haver outros casos. As leis do Afeganistão e Paquistão também permitem a morte por apedrejamento. Em outubro, islâmicos somalis mataram por apedrejamento uma mulher de 23 anos acusada de adultério. Ela foi enterrada até o pescoço numa praça do porto de Kismayu e morta diante de centenas de pessoas. Freidoune Sahebjam, o jornalista franco-iraniano que em 1994 publicou o livro sobre o qual o filme é baseado, morreu quando as filmagens começaram, mas tinha aprovado o projeto, que é falado em persa.

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