Filme aborda o amor entre duas adolescentes

Assunto de Meninas, que estréia amanhã, trata de um tema polêmica mas por uma ótica bastante convencional, no plano ético e estético. Atuação de Piper Perabo é destaque

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Por Agencia Estado
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Assunto de Meninas, de Léa Pool, aborda o tema da adolescência por caminhos, digamos assim, alternativos. A história, baseada no romance The Wives of Bath, de Susan Swan, se passa num colégio interno e é contada pelo ponto de vista de Mary (Mischa Barton). Ela é a novata que chega e é alojada no quarto com duas colegas, as veteranas Paulie (Piper Perabo) e Victoria, ou Tory (Jessica Pare). Mary logo verifica que Paulie e Tory são algo mais que meras amigas. Logo descoberto, o namoro das duas irá causar escândalo na escola. Sob a capa do tema polêmico do amor lésbico, Assunto de Meninas se revela um filme bastante convencional e não apenas do ponto de vista estilístico. No fundo é bem banal a história das duas garotas que têm um caso secreto mas, descobertas, optam por saídas divergentes. Uma "assume" seu amor pela outra. Outra entra no "armário", nega tudo e procura os meninos, para provar que está do lado certo, da norma sexual, da adaptabilidade. Daí o conflito, o drama, e a eventual tragédia. Tudo isso poderia levar a alguma coisa, não fossem os clichês buscados com avidez pela diretora. Certo, o filme é sensível, como se diz, mas por que motivo, afinal, colocar um personagem como o jardineiro filósofo, que age como uma espécie de coro esclarecido, um comentador da ação, alheio a ela? Bastaria para isso focar a atenção no pólo narrativo que é Mary, alguém que chega de fora, é inexperiente e portanto pode ver com alguma clareza o que se passa. Seria o olhar não-viciado, que poderia dar fluidez à narrativa. O uso de clichês não pára por aí. Faz-se necessária a adoção de uma metáfora batida do seguinte tipo: Paulie, a rebelde, encontra uma ave ferida, um falcão que ela vai treinar e cuidar até que ele possa levantar vôo. A coisa aí é bem óbvia. Tem-se um sistema intolerante com as diferenças (incluindo a sexual), a luta de uma dissidente (Paulie) que ensaia o vôo e testa suas forças antes de partir e fazer seu próprio caminho. Nesse ninho de intolerâncias não poderia faltar também uma compensação. Paulie irá encontrá-la na doce figura de uma das professoras, Fay Vaughn (Jackie Burroughs), velhota simpática, compreensiva e pronta a abdicar de suas convicções para dar suporte a uma aluna extraviada. Enfim, trata-se de um filme de bons princípios, que não faz mal a ninguém, mas também carece de novidades, nos planos estético, temático e ético. Enfim, nenhuma subversão, mas também não está escrito em nenhum lugar que um cineasta tenha obrigação de ser demolidor de hábitos e costumes consagrados. Isso depende do temperamento e convicções de cada um. Léa Pool parece apenas indicar que o caminho da tolerância seria benéfico para todos. Em todo caso, o trabalho tem seu interesse. Em especial na maneira como Piper Perabo compõe a sua rebelde oprimida. Convence como atriz e, claro, toda a trama é construída para chamar a simpatia do público para ela. De certa forma, é mesmo Paulie o único personagem interessante. A narradora, Mary, parece boba demais. Tory, medrosa e convencional, não desperta paixões, a não ser a de Paulie. Os adultos, mesmo a boa professora, soam de forma inexpressiva. De modo que sobra Paulie. Mesmo assim, fica a impressão de que se força demais o vínculo entre sexualidade alternativa e vivacidade de inteligência. Não deixa de ser mais um estereótipo contemporâneo, e desta vez associado à prática da correção política. Assunto de Meninas (Lost and Delirious). Drama. Direção de Léa Pool. Can/2000. Duração: 102 minutos. 18 anos.

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