O Amor à Tarde é o sexto filme da série Contos Morais, de Eric Rohmer. Trata da fidelidade e da tentação. É como um teorema cristão: ninguém pode se gabar de ter resistido à tentação se não se sentiu realmente tentado. O dilema é apresentado a Frederic (Bernard Verley), casado e muito bem casado, pai de uma menina e com a mulher grávida de outro filho. Até que um dia aparece em seu escritório a antiga namorada de um amigo, Chloé (Zouzou), um torpedo hormonal em forma de mulher. O tema não é novo e foi usado por um clássico de Billy Wilder, O Pecado Mora ao Lado, em que Marilyn Monroe era a perdição para o homem casado cuja família foi passar férias na praia. Wilder é ótimo e Rohmer, trabalhando no mesmo material, também. Mas suas estratégias são diferentes. Wilder apostava na sensualidade cômica de Marilyn, que ele soube explorar como ninguém. Rohmer, bom francês, sabe que a fala, o diálogo, a voz, fazem parte do dispositivo da sedução. E, portanto, faz com que sua Chloé fale pelos cotovelos - com sua bela voz de contralto que desconcerta o bem-comportado Frederic. Rohmer domina um aspecto bastante prático da psicologia humana. Sabe que a fidelidade pode ser um dispositivo cultural útil, mas nunca se coloca de modo natural para o homem, ou para a mulher. Enfim, seu personagem devaneia. Mantém-se fiel à sua Hélène, mas sonha com outras mulheres. Enquanto são apenas sonhos, tudo bem. Mas então aparece Chloé, com a promessa de materializar devaneios. Como em outros filmes, a fina arte de Rohmer é encaminhar essa pequena história do cotidiano como se fosse uma eletrizante novela policial. Você não desgruda os olhos da tela. Ele vai trair ou não?