Festival Rio BR abre com Almodóvar

Fale com Ela inaugura o Festival do Rio BR 2002 para convidados nesta quinta-feira. Serão exibidos mais de 300 filmes, em 17 mostras, até o dia 10

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Por Agencia Estado
Atualização:

Pedro Almodóvar virou um cineasta tão grande que será preciso se vestir de gala para assistir nesta quinta-feira à noite, no Cine Odeon BR, encravado numa Cinelândia carioca, ao novo filme do diretor. Fale com Ela inaugura o Festival do Rio BR 2002. O convite exige black-tie e a festa que começa no palco do Odeon prossegue com comes, bebes e música num dos armazéns do cais do porto. O evento desta quinta é fechado, só para convidados. A partir de sexta-feira, o Rio vira a capital cinematográfica do País e do mundo. Durante 15 dias, até 10 de outubro, mais de 300 filmes, distribuídos em 17 mostras, serão exibidos em 25 salas da cidade. Os organizadores reconhecem: nem planejando os horários no computador o cinéfilo poderá assistir a todos os filmes contidos nessa maratona. As escolhas serão inevitáveis. Muita coisa incluída na mostra Panorama do Cinema Mundial entrará em cartaz nas salas de todo o País, todos os filmes da Première América têm lançamento garantido e os da Première Brasil, mesmo num mercado ocupado como o brasileiro, dificilmente deixarão de chegar aos cinemas. Por isso mesmo, as demais mostras ficam tão atraentes. São, em geral, os redutos do ineditismo. Midnight Movies, que possui a fama de ser a mais cult das mostras no Festival do Rio BR, exibe filmes experimentais e/ou transgressivos. Mundo Gay é território da militância GLS. Limites e Fronteiras abre a janela para a realidade exibindo documentários que põem na tela os temas da atualidade. É a menina dos olhos de Ilda Santiago, uma das diretoras-executivas do Festival do Rio BR, com Walkíria Barbosa. A lista completa de diretores do evento inclui: Marcelo Mendes, Nelson Grumholz, Adriana Rattes, Vilma Lustosa, Iafa Britz e Marcos Didonet. Ilda lembra que essa mostra já teve outros nomes (Filme e Realidade em 2000, Desafios do Milênio, no ano passado). Visa estimular o debate focado nos problemas concretos do mundo atual. Só para confirmar o que isso representa, basta dizer que Limites e Fronteiras traz ao Rio, no domingo, o filme coletivo em que diretores como Ken Loach, Sean Penn, Shoei Imamura, Samira Makhmalbaf, Youssef Chahine, Idrissa Ouedraogo, Amos Gitai e outros dão seu testemunho sobre o fatídico 11 de setembro. Intitulado, no original, 11´0901, esse é o tipo do filme que se destina à polêmica, até porque os autores, por mais críticos que possam ser em relação ao fato, são, na maioria, homens de esquerda que não rezam pela cartilha do presidente George Bush. E há muito mais para fazer a delícia dos cinéfilos. De Pecadoras a Santas é uma mostra dedicada ao melodrama mexicano que vai recolocar em circulação, em cópias restauradas, os filmes da diva Maria Felix, que morreu este ano. Maria não é a única estrela desse cinema de lágrimas a ressurgir nas telas do Rio. Ela poderá ser vista em A Deusa Ajoelhada, de Roberto Gavaldón, em Desvario, de António Momplet, e em Enamorada e Maclóvia, de Emílio Fernandez, o cineasta que entrou para a história como El Índio Fernandez. A programação inclui melôs com Dolores Del Rio (Coração Torturado) Marga López (Santa entre Demônios) e Columba Dominguez (Pueblerina), todos dirigidos pelo Índio Fernandez. Sob o título de Tesouros da Cinemateca: Três Olhares Germânicos, o Festival do Rio BR 2002 vai exibir as cópias restauradas dos clássicos O Anjo Azul, de Josef Von Sternberg, com a vamp Marlene Dietrich, e Metrópolis, de Fritz Lang, mais o velho Sissi, de Ernst Marischka, com uma garota que, adulta, viraria uma das mulheres mais maravilhosas da tela, Romy Schneider. Mundo Gay traz, entre outras transgressões, Tudo sobre Meu Pai, do norueguês Even Benestad, documentário sobre médico que é travesti, realizado pelo próprio filho dessa figura que parece saída de um filme de Almodóvar. Midnight Movies também traz documentários que vão dar o que falar. A Erva Maldita, de Paolo Rossi e Dario Fo, trata da cannabis, e O Show não Pode Parar, de Nanette Burstein e Brett Morgen, retraça a trajetória de Robert Evans, o executivo da Paramount que produziu, no final dos anos 1960 e início dos 70, O Bebê de Rosemary, Love Story - Uma História de Amor, O Poderoso Chefão e Chinatown. Evans conta tudo sobre sua experiência de garoto dourado em Hollywood. Jovem, bonito e poderoso, ele viajou em relacionamentos conturbados e nas drogas, assumindo a dependência da cocaína que quase o destruiu. Première Brasil e Première América Latina vão mapear a produção recente no País e no continente . Première América traz entre outros, filmes como Códigos de Guerra, de John Woo, e Dívida de Sangue, o novo Clint Eastwood. Mas é, como sempre, o Panorama do Cinema Mundial a mostra que mais chama a atenção, pela amplitude e também por atualizar o espectador que quer estar por dentro de tudo com as novas tendências do cinema em todo o mundo. Fale com Ela integra o panorama, que também vai exibir - apenas uma pequena amostra - O Filho, dos irmãos Luc e Jean-Pierre Dardenne, sobre um pai amargurado que se envolve com o assassino do filho; Ali, de Michael Mann, o mais forte ataque de Hollywood ao racismo desde Na Época do Ragtime, de Milos Forman; Nu Frontal, o novo filme de Steven Soderbergh, com Julia Roberts e David Duchovny, sobre o próprio cinema; O Homem sem Passado, de Aki Kaurismaki, que venceu os prêmios do júri e de melhor atriz (Kati Outinen) em Cannes, em maio; Intervenção Divina, de Elia Suleiman, que enquadra o conflito do Oriente Médio na perspectiva dos palestinos; Irreversível, de Gaspar Noe, que tanta discussão promoveu em Cannes, com a cena do estupro da personagem de Monica Bellucci ; e Ten, no qual Abbas Kiarostami faz avançar a experiência com o digital de ABC África. Outras atrações do panorama: O Pianista, de Roman Polanski, que venceu a Palma de Ouro deste ano com sua recriação do holocausto; Passaporte para a Vida, de Bertrand Tavernier sobre o cinema francês feito com apoio alemão, durante os anos da ocupação da França pelos nazistas; e Possessão, de Neil LaButte, cuja narrativa se desenvolve em dois tempos para discutir literatura e a liberdade de escolha sexual. Polanski, Tavernier e LaButte são alguns dos convidados que já confirmaram a presença no Rio. Costa-Gavras é outro que vem, para participar de um seminário sobre conservação e restauração de filmes promovido pelo Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro.

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