Festival Remaster apresenta clássicos do cinema brasileiro

Filmes de Nelson Pereira dos Santos, Miguel Faria Jr. e outros realizadores são exibidos em sete capitais

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Desde a quinta, 20, oito salas de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Porto Alegre e Salvador sediam o Festival Remaster, que está trazendo, em versões digitalizadas, zero bala, títulos impoprtantes do cinema brasileiro. Preservação, acervo, memória e cultura. Todo mundo reclama tanto sempre da falta de memória desse País, da falta de cuidado – o incêndio no Museu Nacional que o diga –, que a iniciativa de apaixonados cinéfilos e estudiosos como Alexandre Rocha, Marcelo Pedrazzi, Cristina Cunha e Vítor Brasil merece todo apoio.

Cena do filme 'Vidas Secas', de Nelson Pereira dos Santos Foto: Manchete Video

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Para uma nova geração que talvez nunca tenha visto algum(ns) desses filmes nos cinemas, será uma oportunidade e tanto. Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos; República dos Assassinos, de Miguel Faria Jr.; O Homem das Capa Preta, de Sérgio Rezende; Luz del Fuego, de David Neves; Vai Trabalhar Vagabundo, de Hugo Carvana; e Assalto ao Trem Pagador, de Roberto Farias. Nelson morreu em abril, Roberto, em maio, e assim a possibilidade de rever seus grandes filmes em excepcionais condições de imagem e som não deixa de ser uma homenagem a artistas viscerais.

Além de todas essas ficções, o Festival Remaster exibe também dois documentários musicais – Banana Is My Business, de Helena Solberg, sobre Carmem Miranda, e Os Doces Bárbaros, de Jom Tob Azulay, sobre a turnê comemorativa dos dez anos de carreira de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gal Costa. O que seria celebração tomou outro rumo quando Gil, em plena ditadura militar, foi preso por porte de drogas e internado numa clínica para reabilitação, da qual só saía para participar de shows pré-agendados. Em São Paulo, os filmes passam até quarta, 26, no Itaú Augusta (confira os horários). Tambérm irão para uma faixa especial do Canal Brasil, que, neste mês de setembro – dia 20 -, completa 20 anos de atividades.

Vidas Secas foi a primeira adaptação de Graciliano Ramos por Nelson Pereira. Nos anos 1980, Nelson adaptou Memórias do Cárcere. Vidsas Secas virou emblema da estética da fome do cinema novo. O filme segue uma família de retirantes no sertão – Fabiano, Sá Vitória, os meninos e a cachorra Baleia. Há um som estridente, feito para agredir, que atravessa o filme – a roda da carreta, que funciona como um chamamernto às consciência. Na época, 1963, o País ia ingressar na tenebrosa ditadura. Nos anos desenvolvimentistas de Juscelino, o Brasil fez da bossa nova sua trilha. O cinema novo, e Nelson, voltaram à pobreza. Recolocaram o povo na tela. Muitas cenas o cinéfilo não esquece – a morte de Baleia, o menino que repete 'Inferno' sem parar.

República dos Assassinos é outra adaptação – do livro de Aguinaldo Silva sobre os crimes do Esquadrão da Morte e o mais famoso dos policiais 'de ouro', Mateus/Tarcisio Meira, inspirado no célebre Mariel Mariscot. Decorridos quase 40 asnos – o filme é de 1979 –, ainda deve causar impacto a cena em que a travesti, Eloína, interpretada por Anselmo Vasconcelos, é levada perante o juiz. A cena tinha um sentido, talvez adquira outro nesse Brasil da Lava-Jato e do Judiciário sob fogo cerrado. O juiz tenta enquadrar Eloína. Ela dá o troco. Assume-se como escabrosa, seu corpo não faz parte desse sistema.

Tenório Cavalcanti e sua metralhadora, a 'Lurdinha', em O Homem da Capa Preta. Luz del Fuego e suas cobras. A oposição entre asfaltro e morro, ewntrte Reginaldo Farias e Tião Medonho/Eliezer Gomes, em Assalto ao Trem Pagador. E a nostalgia do malandro carioca em Vai Trabalhar Vagabundo, com a trilha de Chico, o Buarque. O duelo de sinuca entre o Russo e Babalu. Paulo César Pereio e Nelson Xavier. O Festival Remaster traz a diversidade e complexidade do Brasil.

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