Festival no México discute cinema latino

Mostra é inaugurada com El Hijo de la Novia e reúne críticos de vários países da América Latina que propõem criação de uma revista virtual ibero-americana

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Por Agencia Estado
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Críticos de vários países da América Latina e da Espanha reuniram-se na capital da província mexicana de Jalisco, nos dias 7 e 8, a convite do Instituto Goethe e da Fipresci, Federation Internationale de la Presse Cinematographique. Discutiram o projeto de criação de uma revista virtual do cinema ibero-americano, para ser lançada no segundo semestre, provavelmente no quadro do Festival de San Sebastian, em setembro. O patrocínio será do Patronato da Mostra do Cinema Mexicano em Guadalajara, ligado à Universidade de Guadalajara, que há 17 anos realiza a Muestra de Cine Mexicano. O evento foi inaugurado festivamente na sexta passada. Prossegue até quinta, exibindo 11 longas e 22 curtas mexicanos. A mostra inclui uma seção ibero-americana, competitiva, com filmes de vários países da América Latina e da Espanha. O Brasil participa da programação com três títulos: O Invasor, de Beto Brant, Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho (que lá se chama A la Isquierda del Padre), e Brava Gente Brasileira, de Lúcia Murat. Previamente à mostra, realizou-se, também promovido pelo patronato, um encontro de diretoras e roteiristas latino-americanas. Terminou na sexta, em pleno Dia Internacional da Mulher. Tata Amaral foi uma das representantes brasileiras. Tata não apenas brilhou nos debates como exibiu Através da Janela, seu filme baseado no mito de Medéia, com bela interpretação de Laura Cardoso. Para inaugurar a Muestra de Cine Mexicano, foi escolhida a produção argentina El Hijo de la Novia, de Juan José Campanella, que concorre ao Oscar de melhor filme estrangeiro. O cenário da exibição não poderia ser mais grandioso: o imponente Teatro Degollado, no centro de Guadalajara. É um prédio do século 19, em formato de anfiteatro e com balcões tão ricamente trabalhados que o público ficava dividido entre a beleza do local e a história contada pelo diretor argentino. Por maior que seja o favoritismo de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet, não se surpreenda se a Argentina receber seu segundo Oscar (após A História Oficial, de Luis Puenzo, nos anos 80). El Hijo de la Novia é interpretado por Ricardo Darín de Nove Rainhas, e pela mesma dupla de A História Oficial, Norma Aleandro e Héctor Alterio. É o tipo do filme que tem o perfil da academia e parece ter sido feito para o Oscar. Simpático, um tanto sentimental, bem escrito e magnificamente interpretado, fez chorar o público do Teatro Degollado com a história do homem que tem problemas com a ex-mulher e a atual, não tem dinheiro para tocar seu restaurante sofre crise de estafa e vai parar na UTI com ataque no coração, mas pára tudo para realizar o sonho de seu velho pai: casar-se com a mãe, que sofre de Mal de Alzheimer. Norma e Alterio são atores excepcionais (e conhecidos do público americano). A luta do herói para resolver o drama familiar - e a própria vida - é profundamente emotiva. Ele enfrenta até a Igreja , que se recusa a oficializar a cerimônia, alegando a doença da mãe. O Filho da Noiva ainda não tem data de lançamento no Brasil, mas você já pode preparar o lenço, aliás, um lençol. Não verter rios de lágrimas com o filme é passar atestado de coração de pedra. A mostra foi inaugurada no dia 8, à noite. No dia anterior, começou a maratona dos críticos ibero-americanos em Guadalajara. Reuniram-se no jardim do Instituto Goethe, para encontros de trabalho pela manhã e à tarde. Na sexta, deram uma coletiva para anunciar a revista virtual de cinema ibero-americano. Foram sugeridos alguns nomes, mas não se chegou a uma decisão por dois motivos: o primeiro é que precisa ser feita uma consulta sobre os direitos desses nomes e o segundo é que a palavra será do patronato, dono do projeto. Duas pessoas foram fundamentais nesse processo: o diretor do Instituto Goethe de Guadalajara, Richard Lang, e o secretário-geral da Fipresci, Klaus Eder (um crítico alemão que dirige o Festival de Munique). Sob a condução dos dois, os críticos e jornalistas reunidos durante os dois dias de sessões matutinas e vespertinas definiram a meta de uma revista virtual que deverá se constituir em ponto de encontro para todos os interessados no cinema ibero-americano, tanto em sua história quanto na atualidade. O documento final do encontro estabeleceu os objetivos da página na Internet. O principal deles você não encontra, pelo menos explicitamente, no referido documento. É o caráter de resistência do projeto à dominação que Hollywood exerce, como centro produtor e difusor de produção audiovisual, neste mundo globalizado. A publicação propõe-se a apoiar a promoção dos cinemas nacionais ibero-americanos, dentro e fora de seus marcos culturais; estimular a crítica e o intercâmbio de idéias e opiniões sobre o cinema ibero-americano; estabelecer um canal de comunicação entre os amantes de cinema da Europa e da América Latina; fomentar o interesse do público por seu cinema nacional; destacar as iniciativas já existentes, no que se refere à difusão cinematográfica de produtos ibero-americanos; e defender a difusão dos festivais ibero-americanos. Inicialmente, a revista será mensal ou bimensal, mas com atualização diária dos conteúdos mais diretamente ligados à atualidade. Todos os integrantes do encontro foram unânimes em destacar a necessidade de que a revista virtual seja independente de organismos públicos e privados que tenham relação direta com a produção cinematográfica. A publicação incluirá ensaios, crítica, informação e uma base de dados permanente sobre tudo aquilo que se relaciona com o tema do cinema ibero-americano. Definidos os objetivos e o próprio formato, o projeto foi encaminhado ao Patronato de la Muestra de Cine Mexicano em Guadalajara, que vai agora buscar recursos na iniciativa privada (do México e de outros países ibero-americanos). Como resultado do encontro, ficou definido o conteúdo dos três primeiros números da revista, a ser lançada dentro de seis meses, em San Sebastian, durante o festival. (*) O repórter viajou a convite do Instituto Goethe

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