Festival É Tudo Verdade disponibiliza filmes de edições passadas

Até dia 19, público poderá conferir obras que foram apresentadas no festival de documentários

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Programado para o período entre 26 de março e 5 de abril, o 25.º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade foi adiado e agora deve ocorrer de 24 de setembro a 4 de outubro, ou seja, quando a primavera, em todos os sentidos, chegar. Em tempos de pandemia, quando aglomerações são indesejáveis (e proibidas), a norma é fazer valer o isolamento. Pensando nisso, o criador do evento, Amir Labaki, abriu uma janela online, em parceria com o site do Itaú Cultural. 

Cena do filme 'A Pessoa É para o que Nasce' Foto: É Tudo Verdade

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Numa primeira etapa, foram liberados clássicos da história do É Tudo Verdade, além das séries inéditas de Chris Marker e Mark Cousins, A Herança da Coruja e Women Make Film. Na segunda, iniciada ontem, estão voltando filmes que já estiveram disponíveis de 26 a 5 e que integram duas mostras, A Experiência Cinematográfica e Retrospectiva – Os Primeiros Premiados.

Amir Labaki comemora. “Liberamos dois dos 13 episódios da série de Chris Marker, em que ele discute, com mais de 50 convidados e por meio de 13 palavras incorporadas ao vocabulário moderno, o legado cultural e político da Grécia Antiga”, conta. As 1.000 visualizações foram atingidas rapidamente. “Na série do Cousins, narrada por Tilda Swinton e Jane Fonda, entre outras, o foco é a contribuição das mulheres ao desenvolvimento do cinema. Logo no primeiro episódio tivemos 214 visionamentos, o que equivale a uma sala cheia.”

O sucesso não se restringiu às grandes atrações internacionais. Banana Is My Business, de Helena Solberg, sobre Carmem Miranda, ganhou grande visibilidade online. “Havia uma geração que não conhecia o filme, que integrou a seleção da primeira edição do É Tudo Verdade, em 1996. Tudo isso demonstra a riqueza da cultura do documentário, que o festival, ao longo de sua história, sedimentou no País.”

Labaki conta que tem mantido o distanciamento social. “Saio em torno de meia hora, a cada três dias, para tomar sol e resolver problemas na farmácia e na mercearia. O restante do tempo fico em casa. Trabalhando, planejamento, acompanhando o sucesso do festival online e, claro, vendo e revendo filmes. Tem sido muito bom rever. Tenho feito grandes redescobertas.” 

O público, também. Na série sobre a experiência cinematográfica, alguns títulos liberados na primeira etapa alcançaram grande repercussão. O Homem da Cabine, de Cristiano Burlan, de 2008, resgata uma figura um tanto negligenciada nesses tempos de novas tecnologias (e streaming), mas que foi fundamental na era do celuloide, o projecionista. Quando as Luzes das Cabines Se Apagam, de Renato Brandão, de 2018, é sobre as salas que compunham a Cinelândia paulista, no Centro de São Paulo, e que entraram em decadência, viraram pornôs ou templos evangélicos.

Outro resgate é o dos primeiros premiados do É Tudo Verdade, com quatro títulos. Nós Que Aqui Estamos por Vós Esperamos, de Marcelo Masagão, de 1999, provocou polêmica no lançamento. Não seria, e não é mesmo, um documentário tradicional, mas um filme nas bordas, uma investigação sobre a linguagem e o tema da morte, a partir da inscrição que o diretor encontrou na porta de um cemitério. 

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A Negação do Brasil, de Joel Zito Araújo, surgiu como livro e virou filme em 2000. Com base na própria experiência como telespectador, e em muita pesquisa, o autor viaja pela história da telenovela brasileira para expor o papel discriminatório reservado a atores e atrizes negros, dessa forma expondo o racismo da sociedade. Milton Gonçalves, a lendária Ruth de Souza, Léa Garcia e Zezé Motta dão depoimentos fortes e emocionantes.

Rocha Que Voa, de 2002, é o tributo de Eryk Rocha a seu pai, Glauber, com base no período em que ele esteve exilado em Cuba (1971/72). Longe de ser uma biografia, mas com elementos biográficos, propõe uma discussão sobre o papel da arte (e do cinema) na revolução social e política da América Latina e do Terceiro Mundo. A Pessoa É para o Que Nasce, de Roberto Berliner, de 2004, nasceu como curta. Conta a história de três irmãs cegas que passaram a vida cantando e tocando ganzá em feiras do Nordeste. A segunda etapa do É Tudo Verdade fica online até dia 19, ou até o limite de visionamento de filmes que foram renegociados.

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