Festival 'É Tudo Verdade' anuncia os seus vencedores

'Os Arrependidos', de Armando Antenore e Ricardo Calil, e 'Presidente', de Camila Nielsson, levam as maiores condecorações

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Havia, talvez, filmes melhores na competição brasileira do 26º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, caso do belíssimo Edna, de Eryk Rocha. O júri integrado pelos diretores Sandra Kogut e Daniel Solá Santiago, e pelo professor da ECA/USP Eduardo Morettin preferiu premiar o igualmente bom Os Arrependidos, de Armando Antenore e Ricardo Calil. Outorgou, também, uma menção a Máquina do Desejo – 60 Anos do Teatro Oficina, de Joaquim Castro e Lucas Weglinski. 

Cena do documentário 'Os Arrependidos', de Ricardo Calil e Armando Antenore Foto: Muiraquité Filmes

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O outro júri, da competição internacional – integrado por Julia Bacha,  Pierre-Alexis Chevit e Ehsan Khoshbakht - , outorgou seu prêmio principal a Presidente, coprodução de Dinamarca/EUA/Noruega, com direção de Camilla Nielsson. O júri também atribuiu uma menção a Vicenta, do argentino Dario Doria. O anúncio goi feito na plataforma do festival, na tarde de domingo. Foi o segundo ano em que não apenas a premiação, mas toda a programação foram realizadas online, por conta do isolamento na pandemia. No ano passado, o É Tudo Verdade deslocou-se do primeiro para o segundo semestre. Neste ano, voltou às datas originais, em abril. 

No catálogo, mais ou menos repetindo o que havia dito na conferência de abertura, o diretor/fundador do evento, Amir Labaki, destacou que a Covid estava nos obrigando a reinventar nossas rotyinas. “Com a invibialização do prazer comunitário das salas, o festival viu-se alijado de sua essência convivial, mas permaneceu solidário em sua missão, social como cultural.” E acrescentou –“O É Tudo Verdade continuou honrando seu compromisso de destacar anualmente a excelência das novas safras cinematográficas, e também de fomentar o debate de novas ideias e oferecer a seu público uma janela privilegiada para o mundo.” 

Os Arrependidos retraça um episódio terrível da ditadura militar, quando a máquina de propaganda do regime passou a utilizar as confissões de mea-culpa de ex-guerrilheiros e integrantes da luta armada. Um matou-se, outro enviou uma carta ao então arcebispo, Dom Paulo Evaristo Arns, denunciando as torturas a que foi submetido. Em uma justificativa, o júri considerou o filme emblemático, atual e desafiador. “Os Arrependidos aceita e propõe o enfrentamento de um momento obscuro da história do País durante a ditadura. Esse encontro com o passado, marcado por uma montagem que contrapõe imagens de arquivo em sua maioria produzidas pelo poder, é marcado pelo estranhamento, reconhecimento, adesão ou indiferença, não deixando testemunhas e espectadores impunes diante das imagens e sons revisitados.” 

A menção ao documentário sobre o Teatro Oficina valoriza a liderança de José Celso Martinez Correia como guru de um teatro voltado à celebração dionisíaca do corpo, e também na resistência ao poder econômico, em defesa de um espaço cultural essencial da cidade de São Paulo. Presidente enfoca a campanha do jovem Nelson Chamisa, do Movimento pela Mudança Democrática, contra a União Nacional Africana do Zimbábue, que vinha controlando o país desde a indeperndência, em 1980. 

A justificativa do júri – “Com uma onda de imagens relevantes, impecavelmente montadas para nos levar a um país que parece estar a caminho de sua primeira eleição democrática, após anos de ditadura, o filme transforma uma manchete do noticiário das 8 em uma realidade sentida e vivida pelo povo zimbabuano.” Pela segunda vez consecutiva, e com poucos meses de diferença, o

É Tudo Verdade

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conseguiu reinventar-se como grande janela do documentário no Brasil, e na América Latina. Durante dez dias, de 8 a 18, o festival apresentou 70 filmes de 23 países, incluindo longas, curtas e médias. 

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