Festival do Rio traça olhar sobre as artes e a exclusão

A extensa programação tem privilegiado obras que dão conta de problemas, mas também de mudanças sociais

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:
Cena do filme 'Waiting for B.' Foto:

RIO - E o 18.º Festival do Rio dialogou intensamente com as artes plásticas na segunda-feira, 10, com a apresentação de um fortíssimo documentário sobre o artista norte-americano Robert Mapplethorpe. À noite, também seriam exibidos dois trabalhos de Murilo Salles sobre Tunga. A dupla de diretores Fenton Bailey e Randy Barbato parte de uma retrospectiva completa do fotógrafo e propõe um novo olhar, mais abrangente, sobre as imagens explícitas de genitália e os atos sadomasoquistas que estão na origem do trabalho do artista. Ao mesmo tempo, revelam um lado noturno e selvagem da Nova York que o imantava.

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O filme sobre Mapplethorpe – Look at the Pictures – passa numa mostra chamada Itinerários Únicos. Ele era único. A Première Brasil tem refletido sobre mudanças comportamentais que colocam o foco na periferia. Waiting for B. – e o ‘B’ é de Beyoncé – é sobre garotos que ficaram dois meses na fila em São Paulo para comprar ingressos mais baratos do show da artista no Morumbi, em São Paulo. Os diretores pensaram inicialmente num vídeo para o YouTube, mas os personagens levaram Paulo César Toledo e Abigail Spindel a expandir o projeto.

Um dos jovens faz troça: “Aqui todo mundo é gay. Já viu hétero fazendo fila para show da Beyoncé?”. O que começa como zoeira vira uma discussão impactante sobre exclusão econômica, homofobia, identidade negra e rejeição familiar. Alguns desses temas também se fazem presentes no admirável Divinas Divas, de Leandra Leal, sobre as pioneiras da arte dos travestimos no Brasil.

Waiting for B. passa num programa duplo com o curta Lápis Cor de Pele. Em concisos 15 min, e com intervenções de Joel Zito Araújo e Maria da Conceição Nascimento, a diretora Victória Roque faz um contundente estudo sobre a ausência de representação de crianças negras nos meios de comunicação do País. O que isso representa na autoestima dessas crianças? O filme tem a força de um soco no estômago. Dialoga muito bem com o documentário Deixa na Régua, de Emílio Domingos, que mostra como salões de barbeiros nas comunidades e subúrbios estão esculpindo a nova estética da consciência negra.

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