Festival de Locarno já tem seus preferidos

Um filme italiano e outro sul-africano que enfocam dois tipos diversos de resistência, estão liderando as apostas do festival de cinema suíço

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Por Agencia Estado
Atualização:

Perto do final, dois filmes com chances de serem premiados mostram, em Locarno, dois tipos diversos de resistência ? Private, do italiano Saverio Constanzo, enfoca os palestinos pacíficos que vivem a ocupação sem se humilharem, enquanto Forgiveness, do sul-africano Ian Gabriel revela que os negros sul-africanos, mesmo terminado o apartheid, trazem ainda as marcas da longa humilhação. E, ambos os filmes, se completam, deixando claro que, mesmo quando os palestinos e os israelenses resolverem o impasse atual e passarem a viver como vizinhos, em dois países independentes, haverá seqüelas doloridas como as deixadas, na África do Sul, pelo apartheid. Forgiveness mostra a dificuldade de se viver como iguais, entre uma família de negros e um policial branco que, durante o apartheid, torturara e matara um jovem ativista. Neste período, em que a África do Sul vive um doloroso momento de reconciliação, no qual os brancos são perdoados do seu racismo e prepotência sobre os negros, desde que confessem seus crimes. O filme mostra como, nem sempre, é fácil se perdoar, mas a vingança, que mais parece desespero, rima algumas vezes como a necessária justiça. Private (que tem atores israelenses e palestinos convivendo nas filmagens) mostra a ocupação pelos israelenses de um sobrado habitado por uma família de palestinos de classe media, cujo pai, intelectual, lembra Edward Said, não fisicamente, mas por se opor e exigir, como chefe de família, a qualquer reação violenta por seus filhos ou sua mulher contra os invasores. Ao mesmo tempo, apesar de instado pelo israelenses para partir e de pressionado pelos gritos e desespero de sua mulher, inconformada em ter de viver fechada num só peça, afirma que não partirá porque a casa lhe pertence. Obrigados a viver no térreo e proibidos de subir na parte ocupada, isso não impede que a filha se esconda no guarda-roupa dos israelenses, onde descobre que os soldados podem ser inofensivos - como o jovem soldado tocador de flauta ou quando vem um jogo de futebol pela televisão - e começa a simpatizar com eles. Imaginem o barulho dos aplausos e assovios e gritos de bravo das 3.500 pessoas que viram esses dois filmes no Pavilhão Fevi e saberão como reagiu o publico. Num filme, os sul-africanos que recuperaram sua condição de homens iguais aos brancos e que evitam um banho de sangue, perdoando seus agressores; no outro, os palestinos e israelenses numa situação de convívio forçado prenunciando o convívio futuro.

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