Festival de Gramado teve votação equilibrada

Vida de Menina foi o grande vencedor, seguido de perto por Filhas do Vento, que rendeu a estatueta ao seu diretor, Joel Zito Araújo, e teve seu elenco amplamente premiado.

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Vida de Menina, baseado no diário de Helena Morley, foi o grande vencedor do Festival de Gramado. Considerado melhor filme pelo júri oficial, ganhou ainda os prêmios de roteiro, direção de arte, música e fotografia. Veio seguido de perto pelo outro bom filme da competição, Filhas do Vento, que rendeu a estatueta ao seu diretor, Joel Zito Araújo, e teve seu elenco amplamente premiado. Ficou ainda com o prêmio da crítica. O Cárcere e a Rua, de Liliana Sulzbach, levou o troféu de melhor documentário. E o uruguaio Whisky ganhou o Kikito de melhor filme latino. Foi uma votação equilibrada, que, no caso da categoria principal, ficção brasileira, premiou os dois melhores filmes em competição. Mas ao mesmo tempo, soube fazer a diferença, pois, visto de perto, Vida de Menina tem um algo a mais em relação a Filhas do Vento. Em nenhum momento perde seu ritmo, não oscila, e nem deixa o interesse do espectador cair ao contar a história da garota que vive em Diamantina no final do século 19 e registra o seu dia-a-dia num diário que iria publicar muitos anos depois. Tanto assim que o filme ganhou também o prêmio na votação popular. O júri indicou ainda que o ponto forte de Filhas do Vento é o elenco de primeira, muito bem dirigido pelo cineasta, estreante na ficção. Uma curiosidade deste festival: os dois grandes premiados, Helena Solberg e Joel Zito Araújo, fazem suas estréias na ficção - seus trabalhos anteriores eram documentais. Entre os documentários participantes, a disputa parecia equilibrada. Mas o júri foi unânime em escolher essa história de mulheres presidiárias como a grande vencedora. De fato, O Cárcere e a Rua tem méritos, mas não aprofunda as vidas que coloca na tela. Deixa que às vezes a piedade e um certo humanismo cristão exacerbado ocupem demais o espaço cinematográfico e pouco contribuam para desvendar ao espectador o sentido daquelas vidas. Didático, de pouca invenção formal, mas rico em idéias e informações, um documentário como Soldado de Deus acabou passando batido. Mas talvez seja mais estimulante, do ponto de vista histórico e intelectual do que o vencedor. Mas o fato é que esse tipo de trabalho goza de pouco prestígio em festivais, que dá preferência a filmes mais "artísticos". A escolha do uruguaio Whisky, de Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll como melhor filme latino premia a surpresa e a qualidade desse trabalho feito de sutilezas e detalhes. A história do pequeno industrial que finge estar casado quando recebe a visita do irmão que não vê há anos, é um pequeno estudo, cheio de humor e compaixão, sobre a solidão humana. Cativou a platéia, e foi eleito melhor filme também segundo o júri popular. A pena é que tenha derrotado Suíte Havana, do cubano Fernando Pérez, um retrato poético da vida cotidiana na capital cubana, belo, poderoso e que abole fronteiras entre a ficção e o documentário. Ganhou um prêmio especial do Júri e o troféu da crítica. Registre-se também Vereda Tropical, sobre a estadia do escritor argentino Manuel Puig no Rio de Janeiro, esnobado pelos jornalistas presentes em Gramado, porém recompensado com o prêmio de direção (Javier Torre) e ator (Fabio Aste). A estranheza fica reservada para a premiação dos curtas. Certo, Momento Trágico é engraçado e tem qualidades. Mas não a ponto de acumular os prêmios de melhor filme, direção (Cibele Amaral) e júri popular. Especialmente quando concorre com um filme especial e ousado como o gaúcho Cinco Naipes, de Fabiano de Souza, que teve reconhecimento muito abaixo do seu potencial. Enfim, tudo acabou bem para um festival que começou sob fogo cerrado da mídia por causa da seleção dos concorrentes, mas acabou provando que ela não era tão ruim assim. Afinal, um festival que exibe e premia filmes da qualidade de Vida de Menina e Filhas do Vento, Whisky e Suíte Havana, Cinco Naipes e A Moça que Dançou depois de Morta pode ser considerado um fracasso? Só com muita má vontade. Premiação. Júris oficiais Longa de ficção brasileiro Vida de Menina: melhor filme, roteiro (Elena Soarez e Helena Solberg), direção de arte (Beto Mainieri), música (Wagner Tiso) e fotografia (Pedro Farkas) Filhas do Vento: diretor (Joel Zito Araújo), atriz (Léa Garcia, Ruth de Souza), ator (Milton Gonçalves), ator coadjuvante (Rocco Pitanga), atriz coadjuvante (Talma de Freitas e Thaís Araújo) O Quinze: montagem (Louelane Loyola) Araguaya, a Conspiração do Silêncio: Prêmio Especial do Júri Longa de ficção latino Whisky: melhor filme e atriz (Mirella Pascual) Vereda Tropical: diretor (Javier Torre) e ator (Fabio Aste) Suíte Havana: Prêmio Especial do Júri Documentário O Cárcere e a Rua, de Liliana Sulzbach Curta-metragem 35 milímetros Momento Trágico: melhor filme e direção (Cibele Amaral), ator (André Decca) Cinco Naipes: roteiro (Fabiano de Souza), montagem (Milton do Prado), ator (Pedro Santos) Vovó Vai ao Supermercado: atriz (Lala Schneider) Desequilíbrio: fotografia (Marcelo Trotta) A Moça que Dançou depois de Morta e Messalina: Prêmio Especial do Júri Prêmio do Júri Popular: Melhor filme brasileiro de ficção: Vida de Menina Melhor filme latino de ficção: Whisky Melhor curta em 35 mm: Momento Trágico Prêmio da Crítica Melhor filme brasileiro de ficção: Filhas do Vento Melhor filme latino de ficção: Suíte Havana Melhor curta em 35 mm: Heliorama

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.