Festival de documentários É Tudo Verdade expõe feridas abertas ao redor do mundo

A 21ª edição será realizada entre os dias 7 e 17 de abril, em São Paulo e no Rio, e depois segue para Belo Horizonte, Brasília, Recife e Santos com os premiados das competições nacional, internacional e outros destaques

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Por Pedro Antunes
Atualização:

O mundo sangra. Escorre através das veias e artérias rompidas com atentados no semanário Charlie Hebdo, por toda a Paris em novembro do ano passado, na Bélgica no início desta semana. Goteja pelas guerras intermináveis, por todo o continente africano e no Oriente Médio. E, de forma direta ou indireta, o líquido rubro espirra na produção cinematográfica mundial – principalmente a documental. Não é por acaso que a 21.ª edição do É Tudo Verdade, tradicional mostra de documentários do País, traga retratos da crise humanitária mundial contemporânea. O festival será realizado entre os dias 7 e 17 de abril, em São Paulo e no Rio, e depois segue para Belo Horizonte, Brasília, Recife e Santos com os premiados das competições nacional, internacional e outros destaques.

“O festival espelha a produção brasileira e mundial”, explicou Amir Labaki, fundador e diretor do É Tudo Verdade, na manhã da quinta-feira, 24. “Não é uma surpresa que tenhamos uma seleção de filmes na qual é retratado o momento pelo qual o mundo está passando, quando tudo está tão conturbado.”

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A começar por Fogo no Mar, brilhante trabalho do italiano Gianfranco Rosi, vencedor do grande Urso de Ouro do Festival de Cinema de Berlim, neste ano. A lente delicada do diretor, também vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza, em 2013, com o filme Sacro GRA, posiciona-se na ilha italiana Lampedusa, na costa da Sicília. Atento, ele exibe as desesperadas tentativas de busca por abrigo de parte dos refugiados de guerras na África e no Oriente Médio, enquanto escancara como a violência, indiretamente, afeta um jovem garoto, com seu medo do mar e sua agressividade enrustida em brincadeiras de crianças. “O Rosi vai na raiz do problema”, avalia Labaki.

A crise está por toda a programação. O russo Catástrofe examina o desastre na Hidrelétrica Sayano-Shushenskaya, em 2009, enquanto o francês Gigante denuncia a mineração ilegal na Mongólia. Ela surge até mesmo nos curtas, caso do sueco Cosmopolitanismo, o palestino Eu Tenho Uma Arma e o norte-americano Munique’72 e Além.

No lado brasileiro do É Tudo Verdade, o festival promove uma retrospectiva com a obra de Carlos Nader, três vezes vencedor das mostras competitivas. São 12 filmes do diretor escalados para a programação.

Labaki também comemora a disputa saudável e inédita entre três grandes nomes do documentário nacional. Vladimir Carvalho mostra seu Cícero Dias, O Compadre de Picasso, Eduardo Escorel traz o novo Imagens do Estado Novo 1937-45 e Walter Carvalho apresentará Manter a Linha da Cordilheira Sem O Desmaio da Planície. Curiosamente, a produção nacional retrata conturbados momentos políticos. Em Cacaso na Corda Bamba, o personagem-título luta contra a censura durante a ditadura militar dos anos 1970, assim como a história de Theodomiro Romeiro dos Santos, militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, torturado durante nove anos na mesma época, em Galeria F, de Emília Silveira. “A urgência é a marca de um documentário”, diz Labaki. “É algo muito particular do gênero. E a programação está provando isso.”

Confira a programação completa no site do É Tudo Verdade

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