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Festival de cinema ecoa vozes múltiplas das periferias brasileiras

Em sua 9ª edição, Visões Periféricas exibe 81 filmes que falam da vida em comunidades e de seus personagens

Por Roberta Pennafort
Atualização:

Numa favela carioca, um jovem é morto numa troca de tiros entre traficantes e militares, motivando protestos dos vizinhos. Em Alagoas, um adolescente decide peitar ameaças de morte e ficar na favela onde mora. Em Pernambuco, um integrante de uma torcida organizada de time de futebol se digladia com a própria orientação sexual. Na Colômbia, uma senhora de 70 anos passa a primeira noite sozinha depois da perda do marido, em meio à saudade e à descoberta da liberdade. 

São histórias de periferias, suas intimidades, carências e abundâncias, contadas por seus protagonistas, e que podem ser descobertas no Festival Visões Periféricas, em cartaz até o domingo, em 17 pontos de exibição, cineclubes e salas de cinema do Rio de Janeiro e na internet (www.visoesperifericas.org.br). Independentes, à margem do mercado de cinema no Brasil, os realizadores filmam o que os cerca: o lugar onde vivem, seus hábitos, personagens, crenças, festas.

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Os formatos, a duração e os discursos variam. “Os filmes têm uma carga afetiva muito grande. A estética dos realizadores tem total relação com o território que eles ocupam”, acredita Marcio Blanco, idealizador do festival, que já está em sua nona edição (graças a patrocínios como o da Oi) e tem forte interlocução com a América Latina. Da Colômbia vieram dez filmes e um grupo de 20 pessoas. O funk é o homenageado dessa edição.

Professor de cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF), Blanco acompanha de perto a formação desses diretores, em grande parte, jovens com um celular na mão e ideias fresquinhas na cabeça. Eles vêm de projetos sociais que têm no audiovisual a ferramenta para o desenvolvimento cultural e social, de escolas livres, de coletivos, de gente que se beneficia de editais públicos. Blanco lembra que a facilitação do acesso à internet e aos meios de produção e exibição vem multiplicando os filmes – este ano, 81 foram selecionados pelos curadores Emílio Domingos e André Sandino (de 451 inscritos). E a qualidade vem aumentando, junto com a consistência e o desenvolvimento dessa estética da periferia. “No começo, percebia uma influência muito grande da TV. O cara da favela falava da favela como a TV mostrava, reproduzia estereótipos.”

Os filmes vêm de 12 Estados e do Distrito Federal, e integram quatro mostras competitivas e outras três paralelas, que exibirão produções sobre lugarejos pouco conhecidos e perfis de personagens inusitados. O mineiro André Novais, que passou pelo Festival de Cannes com seu curta Pouco Mais de um Mês, estreia Ela Volta na Quinta, seu primeiro longa, que tem seus pais como um casal em crise, e ele e o irmão, Renato Novais, como seus filhos. Vindo de Pernambuco, Brasil S.A. é “uma crítica a um modelo de desenvolvimento econômico que não leva em conta as especificidades do próprio País”, explicou o diretor Marcelo Pedroso, ao apresentá-lo no Festival de Berlim este ano.

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