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Festival de Cinema de Brasília dá a largada

Rogério Sganzerla, Silvio Tendler, Julio Bressane, Sylvio Back estão entre os pesos-pesados que disputam o festival, com produções de forte viés experimental

Por Agencia Estado
Atualização:

Brasília tem tudo para fazer um festival histórico. Nesta sua 36.ª edição, que será aberta hoje, com a exibição fora de concurso de Subterrâneos, de José Eduardo Belmonte, o mais tradicional evento do gênero no Brasil reunirá em sua mostra competitiva seis diretores consagrados, fato raro em sua longa história. Disputam os prêmios principais na categoria longa-metragem Rogério Sganzerla com O Signo do Caos; Silvio Tendler, com o documentário Glauber, o Filme, Labirinto do Brasil; Julio Bressane, com Filme de Amor; Carlos Reichenbach, com Garotas do ABC; Sylvio Back, com Lost Zweig, e Maurice Capovilla, com Harmada. Esta edição é um festival de veteranos, com forte viés do cinema experimental - circunstâncias que certamente irão despertar alguma polêmica. De fato, em 1996, Brasília fez um festival com predominância da força jovem, e talvez aquela tenha sido sua edição mais feliz dos anos recentes. Nela apareceram títulos como Baile Perfumado, Um Céu de Estrelas e Como Nascem os Anjos, filmes de pulsação contemporânea, que apontavam caminhos para o cinema nacional. Por ironia, quem na época ocupava a pasta da Secretaria da Cultura do Distrito Federal, órgão que promove o evento, era Silvio Tendler, que agora volta a Brasília como concorrente. Ele e seus colegas têm a missão de mostrar que a ousadia não é privativa da juventude. E que, assim como existem jovens conservadores, há também gente madura que não perdeu o sentido da inovação. Tendler, com seu documentário sobre Glauber Rocha, ocupa posição estratégica na programação. Ele será exibido na quinta-feira, portanto na segunda noite de competição. Está entre o primeiro concorrente - Signo do Caos, de Rogério Sganzerla - e o terceiro, Filme de Amor, de Julio Bressane. Essa primeira metade do festival faz contraponto com a segunda, formada por três filmes de natureza diversa. Garotas do ABC, de Carlos Reichenbach, Lost Zweig, de Sylvio Back, e Harmada, de Maurice Capovilla, incluem-se em outra vertente do cinema. Reichenbach fala da vida operária no ABC paulista, Back relembra a trágica estada do escritor austríaco Stefan Zweig no País e Capovilla refaz a trajetória de um artista decadente, vivido por um Paulo César Pereio iluminado. Seis candidatos de peso. Sganzerla e Bressane são autores de vastas e consistentes obras, nas quais se incluem clássicos do cinema nacional como O Bandido da Luz Vermelha e Matou a Família e Foi ao Cinema. Silvio Tendler é um dos grandes documentaristas do País, com títulos conhecidos como Anos JK e Jango e no currículo. Back é diretor polêmico de documentários como Rádio Auriverde e Yndio do Brasil, e filmes de ficção como Aleluia Gretchen e Lance Maior. Reichenbach vem do cinema dito da Boca do Lixo de São Paulo e é autor de obras seminais como Filme Demência, Anjos do Arrabalde e Alma Corsária. Capovilla é cria dos radicais anos 60, quando fez filmes como Bebel, Garota Propaganda e O Profeta da Fome. Não realizava um longa-metragem desde 1976, ano de O Jogo da Vida, adaptado do conto Malagueta, Perus e Bacanaço, de João Antônio. Enfim, com o perdão da expressão, este ano, o Festival de Brasília verá briga de cachorro grande. O júri que se cuide e trabalhe com cuidado. Tem condições para tanto: é formado pelo fotógrafo Affonso Beato, pelos cineastas Alain Fresnot e Luiz Fernando Carvalho, pelo ator Raul Cortez, pelo produtor Márcio Curi, pela escritora Ana Miranda e pelo crítico de cinema José Geraldo Couto. Mesmo assim e isso já se pode antecipar desde já, qualquer resultado será controverso, sujeito a contestações e provocará mais descontentes do que satisfeitos. Enfim, essa é a regra dos festivais, que sempre dispõem de menos prêmios do que gente disposta a ganhá-los. E, apesar desses inconvenientes, há sempre mais cineastas querendo competir do que vagas disponíveis. Mais de 20 longas-metragens tentaram entrar no jogo e só seis ficaram. Os 12 curtas em 35 milímetros foram tirados de cem inscritos e, mesmo na bitola mais democrática de 16 milímetros, houve seleção: de 47 inscritos apenas 23 concorrem. É a vida. Todo mundo quer participar do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, mas as vagas são limitadas. Ao contrário de outros festivais, que se transformaram em verdadeiros corações maternos Brasília impõe-se rigor seletivo. Faz muito bem. Só desse modo os filmes podem ser apreciados e discutidos em profundidade, com calma, tempo e concentração. Esse é o espírito da coisa. Confira a lista dos concorrentes Longas-metragens Filme de Amor, de Julio Bressane Garotas do ABC, de Carlos Reichenbach Glauber, o Filme, Labirinto do Brasil, de Silvio Tendler Harmada, de Maurice Capovilla Lost Zweig, de Sylvio Back Signo do Caos, de Rogério Sganzerla Curtas-metragens - 35 mm A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante A Lata, de Leopoldo Nunes Cartas da Mãe, de Fernando Kinas e Marina Willer Momento Trágico, de Cibele Amaral Ovo, de Nicole Algranti Onde Quer Que Você Esteja, de Bel Bechara e Sandro Serpa Porcos Corpos, de Sérgio Oliveira Rua da Amargura, de Rafael Conde Teodoro Freire - O Guardião do Rito, de Nôga Ribeiro e William Allves Transubstancial, de Torquato Joel Truques, Xaropes e Outros Artigos de Confiança, de Eduardo Goldenstein Uma Estrela pra Ioiô, de Bruno Safadi

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