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Festival de Cannes esqueceu o fascinante 'A Assassina', na edição 2015

Obra de Hou Hsiao-Hsien, que enche a tela de beleza e encena ação como um balé, só levou o prêmio de mise-en-scène

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

No momento em que o Festival de Cannes de 2016 inicia sua segunda semana, vale lembrar que, no ano passado, nesta mesma época, realizava-se o festival anterior. Havia muita expectativa pela Palma de Ouro que seria outorgada pelos irmãos Coen. No fim, se houve unanimidade foi negativa em relação à Palma que eles atribuíram a Dheepan – O Refúgio, do francês Jacques Audiard. O repórter integrava o time que torcia por A Assassina. Pode ser mera coincidência, mas o filme de Hou Hsiao-Hsien estreou na quinta, 12. É belíssimo.

Durante toda a sua vida, o grande autor (com Edward Young) da nouvelle vague de Taiwan sonhou com a realização de um filme de gênero – um wuxia, filme de sabre. Em Cannes, ele contou – “Pode ser estranho, mas tenho a impressão de que me tornei diretor somente para um dias realizar esse filme. Quando era garoto, eu lia muito histórias de wuxia, e via os filmes produzidos pelos estúdios dos irmãos Shaw. Preferia os livros, os quadrinhos. Devorava tudo o que encontrava, mas o grande impacto veio quando descobri os contos da dinastia Tang.” E Hsiao-Hsien prosseguiu – “São histórias curtas. Dentro delas, descobri a personagem Nie Yinniang, que me seduziu. Nie é filha de um general, que um dia recebe a visita de uma freira que lhe propõe treinar sua filha para ser uma assassina. Ele recusa, mas a garota é sequestrada e treinada para não ter piedade. Anos mais tarde, falha numa missão e é enviada à cidade em que nasceu, para tentar se redimir. Deve matar o governador, que é seu primo. E fica dividida entre a honra e o sentimento.”

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Cineasta moderno, Hsiao-Hsien tornou-se conhecido e admirado pela desconstrução do tempo e do drama tradicional. Se a ação nunca foi seu forte, como ele aborda os códigos do wuxia? De forma estilizada e minimalista. O filme possui uma narrativa concentrada de minutos. A narrativa é, como se diz, lacunar e tem de ser preenchida pelo público. Hsiao-Hsien enche a tela de beleza e encena a ação como um balé.

Os Coens e seu júri podem ter preferido o drama contemporâneo de Dheepan, mas com certeza ficaram siderados pela beleza de A Assassina, a ponto de outorgar ao filme o prêmio de mise-en-scène. No centro de sua direção, poderosa e delicada, ameaçadora e fascinante, está Shu Qi, a grande musa de Taiwan. Vai ser difícil desgrudar o olho da tela.

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