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Fernanda Montenegro e Fernanda Torres falam ao <b>Estado</b>

Mãe e filha contam experiências nos filmes de Arnaldo Jabor que entram em cartaz

Por Agencia Estado
Atualização:

Mãe e filha, Fernanda Montenegro e Fernanda Torres são as estrelas de Tudo Bem e Eu Sei Que Vou te Amar, filmes de Arnaldo Jabor que voltam a ser exibidos nas telonas a partir desta sexta-feira. Os filmes estão sendo lançados também em DVD, em caixa com toda a produção audiovisual do cineasta. Fernanda Montenegro ganhou seu primeiro prêmio internacional por Tudo Bem. Foi melhor atriz no Festival de Taormina, em 1980. Ela considera os anos 70 muito criativos no cinema brasileiro. Diz que o cinema de Jabor, e Tudo Bem, especificamente, oferece uma súmula do período - "Era uma fase muito difícil. Só nos restava o delírio de autores como o Jabor." O que era atraente no projeto de Tudo Bem, na época? Era a audácia do Jabor querendo colocar o Brasil dentro de um apartamento em ruínas de Copacabana. Já conhecia o Jabor como crítico de teatro e pelos filmes que havia feito. O roteiro tinha dramaturgia, abordava a classe média, coisa rara no cinema brasileiro, mas gostei particularmente da idéia do Jabor de reunir atores de diferentes gerações. Éramos Paulo Gracindo, Zezé Motta, o Fernando Torres, meu marido, Jorge Loredo e todos aqueles jovens que estavam despontando - Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães. Ficamos um mês trancados naquele apartamento e foi uma convivência muito produtiva. Como era o método de direção de atores do Jabor? A imagem que guardo é a dele atrás da câmera pedindo "Mais gás!". Jabor queria fazer a crítica da alegoria que dominava o Cinema Novo. Queria ser paródico. Ele se emocionava, interagia por trás da câmera. A gente via o filme construir-se na cara dele, na emoção dele. Você já viu Tudo Bem com as mudanças que Jabor fez? Não vi e estou curiosa porque o Tudo Bem já era bom para mim. Jabor deu uma guinada depois, mas sempre achei que ele era, e é, talentoso. Você acaba de voltar de uma experiência no exterior... Estou filmando O Amor em Tempos de Cólera, do García Márquez, com o Mike Newell, um diretor inglês muito capaz, que fez o último Harry Potter. É uma produção grande e o Newell me contatou por e-mail. Me convidou para fazer o papel da mãe do herói. Filmei na Colômbia e agora estou vindo de Londres, onde fiz algumas internas em estúdio. Newell sabe dirigir atores. Reuniu um elenco com muitos jovens de origem latina. Será falado em inglês? Em inglês com sotaque caribenho. Tivemos uma preparação muito grande para garantir a unidade de sotaque na interpretação. A filha Oito da noite de quarta-feira. Fernanda Torres fala de casa, no Rio, pelo telefone, depois de sobreviver ao inferno que viraram os aeroportos brasileiros. Acabara de chegar de São Paulo, morta de medo por causa do temporal que se armava e da pane que tem paralisado o transporte aéreo no País. Jabor diz que a escolheu para o papel em Eu Sei que Vou te Amar por causa de Inocência, do Walter Lima Jr. Queria transformar a inocência em indecência... E foi por isso que eu fiz o filme. Era muito jovem, lembro que fiz 19 anos durante a filmagem, e tanto o Thales (Pan Chacon) quanto eu não tínhamos a menor experiência daquilo que falávamos. A gente vomitava o texto do Jabor com todos os ressentimentos e cobranças dos amores que chegam ao fim. Fazíamos inocentemente. Jabor queria atores mais velhos, mas depois se deu conta de que ficaria mais forte com gente jovem. Hoje eu entendo mais aquele surto dos personagens, mas na época não pensava. Quis fazer o filme por causa do Jabor. Como assim? Jabor era um mito na minha casa. Havia feito "Tudo Bem" com papai e mamãe, numa época em que eu começava a tomar consciência do mundo artístico. Sabia quem era o Jabor. Passei a ter idolatria por ele. Quando ele me chamou, a idéia de ficar dois meses convivendo com aquele cara tão bacana me deixou louca E o prêmio de melhor atriz no festival de Cannes? Foi conseqüência. O filme foi feito de maneira intensa, visceral e eu acho que passa isso. Vi a peça que o próprio Jabor adaptou do filme e não era a mesma coisa. O filme, para mim, é o texto e a embalagem. Acho que aquela coisa high tech ficou um pouco datada, mas a casa do (Oscar) Niemeyer é fundamental e as externas, quando a gente vai para a praia, para as ruas de Copacabana, compõem outro filme. Jabor é pura Copacabana. Foi difícil de fazer, de se entregar? Tivemos uma filmagem meio guerrilha. Uma noite estávamos o Thales e eu, correndo nus na praia de Copacabana - sempre tem alguém nu no cinema nacional, não é? -, e o Jabor gritou: "Ihhh, sujou. Está vindo a polícia. Ponham as roupas, rápido." Eu era jovem, era tudo novidade. Acho que o ganho pessoal desse filme foi ter estabelecido uma intimidade minha com o Jabor. Ela permanece até hoje. Como a minha admiração por ele.

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