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'Fazer mãe e filha foi desafio', diz Catherine Deneuve

Atriz comenta como foi contracenar com sua filha

Por Luiz Carlos Merten/ O Estado de S. Paulo
Atualização:

Catherine Deneuve pode passar aquela imagem de loira fria, mas é mãe, e coruja. Ela concorda com o repórter, quando ele diz que Chiara Mastroianni virou, enfim, uma grande atriz.

 

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Perdoe-me a ousadia, mas sua filha virou, enfim, uma atriz. A senhora se orgulha de Chiara?

 

Bem entendido que sim, ainda mais que concordo plenamente. Quando ela manifestou pela primeira vez o desejo de ser atriz, não pensei em reprimi-la, mas lhe deixei claro que o fato de ser filha de quem era não iria facilitar as coisas. Marcello foi mais receptivo à ideia, mas ele vivia o cinema com muito mais intensidade que eu. Marcello resplandecia no set, era o seu território. Eu sempre tive minhas dúvidas sobre se representar nos filmes era mesmo um trabalho. Tentei explicar a Chiara que Marcello e eu tivemos vidas e carreiras privilegiadas, que a vida de ator, no geral, é muito difícil. Ela persistiu e, sim, há um antes e depois de Sim, Minha Filha, Você Não Irá Dançar na carreira dela.

 

Já era um filme de Christophe Honoré e agora, a propósito de Bem Amadas, ele disse que não se intimidou de dirigi-la porque, para ele, a senhora não é a Bela da Tarde, mas a mãe de Chiara. O que pensa disso?

 

Mas eu não sou a Bela da Tarde. Seria ingênua e até hipócrita se não reconhecesse que produzo um certo efeito nas pessoas, e que os diretores catalisam isso. Mas a grande dama do cinema francês... A mídia é que cria esses rótulos. Presumo que sou uma dama porque sou discreta, reservada e isso cria um certo distanciamento. Uma estrela? Por favor... Christophe me enviou o roteiro. Gostei da história, da personagem, teria de cantar, o que era um desafio. Não tinha por que vacilar.

 

A ideia de contracenar com Chiara, de fazer a mãe dela, era atraente?

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Claro que sim, mas não determinante. Escolho os filmes pelos papéis, pelos diretores. Não cabe a mim escolher com quem vou contracenar. Se Christophe tivesse escolhido outra atriz, teria feito o filme de qualquer maneira. Mas foi bom contracenar com Chiara nessa nova fase, mais madura. Confesso que isso acrescentava mais um desafio. Seria fácil, uma tentação, reproduzirmos na tela nossa relação de mãe e filha. Não estaríamos servindo às personagens. Uma vez definida a natureza de Madeleine e Véra (mãe e filha da história), o que fizemos foi nos adequar. Mais de uma vez interrompemos a cena porque estávamos enveredando por outro caminho.

 

Ludivine Seigner, que interpreta sua personagem quando jovem, evoca a jovem Catherine de Os Guarda-Chuvas do Amor, concorda?

 

Não sentia isso lendo o roteiro, mas quando ela usa aquela capa branca eu vacilei. E, claro, o fato de o filme ter canções... Qualquer filme francês cantado vai sempre evocar o universo de Jacques Démy, mas há uma diferença. O universo de Jacques era tão dele que nós, os atores, tínhamos de nos adequar a ele. Christophe, pelo contrário, modela as personagens na gente. Uma vez escolhido o ator, ou a atriz, o personagem se ajusta como uma roupa.

 

Na coletiva do filme, Milos Forman disse que era um privilégio ser seu amante, mesmo que na ficção. Que efeito teve esse comentário?

 

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Milos é um grande artista e estava sendo galante. Somos ambos produtos dos anos 1960. Ele começou a filmar em 1963 ou 64, justamente quando comecei a fazer meus filmes mais famosos. Tive o privilégio de trabalhar com todos aqueles grandes diretores. Jovens como Jacques (Démy) e Roman (Polanski), consagrados como Don Luis (Buñuel), que já era parte da história do cinema. Se Milos tivesse me chamado naquela época, teria corrido. Os Amores de Uma Loira era irresistível, de tão nouvelle vague.

 

Potiche mexeu com o imaginário das pessoas ao mostrá-la num outro tipo de personagem, a dona de casa que se afirma. Gostou de fazer o filme?

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François (Ozon) é um diretor singular, que surpreende a gente. Mas confesso que o sucesso do filme, na França e no exterior, foi tão grande que me surpreendeu. Acho que a ideia de que é possível recomeçar, sempre, foi que mexeu com o público.

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