Faltam filmes e séries hollywoodianos sobre mudanças climáticas, diz grupo

Apenas 2,8% da ficção que vai para as telas faz referência a palavras relacionadas ao assunto, segundo estudo

PUBLICIDADE

Por Lynn Elber
Atualização:

LOS ANGELES (AP) - A resposta de Hollywood às mudanças climáticas abarca doações, protestos e outros ativismos, mas aparentemente não conta com uma abordagem mais ligada ao próprio setor.

Apenas uma fatia da ficção que vai para as telas, 2,8%, faz referência a palavras relacionadas às mudanças climáticas, de acordo com um novo estudo de 37.453 roteiros de filmes e séries de TV entre 2016 e 2020. Um plano com maneiras de reverter esse quadro foi divulgado na terça-feira, 19.

Leonardo DiCaprio eJennifer Lawrence interpretam cientistas tentando alertar o mundo para um desastre em 'Não Olhe para Cima'. Foto: Niko Tavernise/Netflix

PUBLICIDADE

Good Energy: A Playbook for Screenwriting in the Age of Climate Change [algo como “Energia boa: um manual para escrever roteiros na era das mudanças climáticas”] foi criado com o feedback de mais de 100 roteiristas de cinema e TV, disse Anna Jane Joyner, editora-chefe do manual e fundadora da Good Energy, uma consultoria sem fins lucrativos.

“Um grande obstáculo que encontramos foi que os roteiristas estavam associando histórias climáticas com histórias apocalípticas”, disse ela em entrevista. “O principal objetivo do manual é expandir esse menu de possibilidades (...) para uma variedade maior de como o tema pode aparecer na nossa vida real”.

Entre aqueles que forneceram financiamento para o projeto do manual estão a Bloomberg Philanthropies, o Sierra Club e a Walton Family Foundation.

Várias celebridades vêm soando o alarme climático, entre elas Leonardo DiCaprio, Jane Fonda, Don Cheadle e Shailene Woodley. DiCaprio também estrelou Não Olhe Para Cima, o filme indicado ao Oscar de 2022 no qual um cometa se aproximando de uma Terra indiferente é uma metáfora para o perigo da apatia diante das mudanças climáticas.

Mas o manual está pedindo a roteiristas e executivos do setor que pensem em uma variedade de abordagens menos terríveis, disse Joyner, com exemplos e recursos incluídos.

Publicidade

“Nós vemos as coisas como um espectro que vai desde mostrar o impacto com soluções em segundo plano”, como incluir painéis solares nas tomadas externas dos edifícios, disse ela. Menções casuais às mudanças climáticas nas cenas também podem ser eficazes.

“Se você já está ligado a um personagem na história e o tema surge autenticamente na fala dele, isso valida para o público que é legal falar sobre o tema no seu dia a dia”, disse Joyner.

Dorothy Fortenberry, dramaturga e roteirista de TV (The Handmaid’s Tale), disse que a indústria também precisa ampliar sua visão sobre quem vive as histórias.

“As mudanças climáticas são uma coisa que agora está afetando pessoas que não são necessariamente as pessoas sobre as quais Hollywood costuma escrever histórias. Está afetando lavradores em Bangladesh, no Peru, no Kentucky”, disse Fortenberry. “Se contássemos histórias sobre diferentes tipos de pessoas, haveria oportunidades para costurar o tema do clima com perfeição”.

Em 2007, 'Uma Verdade Incoveniente', de Davis Guggenheim, venceu o Oscar de Melhor Documentário de Longa Metragem, colocando a questão climática em destaque. Foto: Divulgação

PUBLICIDADE

O fracasso da indústria do entretenimento em usar seu poder narrativo de forma mais eficaz sobre o assunto não parece surpreendente para Joyner, que há 15 anos trabalha em comunicações sobre mudanças climáticas em vários setores e comunidades.

Na primeira década, parecia que “estávamos gritando no vazio” por causa da falta de resposta, disse Joyner. Mas há evidências de uma crescente preocupação entre os americanos em relação às mudanças climáticas, disse ela, até mesmo entre aqueles que estão em Hollywood.

“Todos nós passamos por uma espécie de despertar”, disse ela. Há uma série de documentários e programas de notícias sobre mudanças climáticas, disse ela, expressando otimismo de que os criadores de ficção farão um progresso constante.

Publicidade

A Good Energy financiou a análise de roteiros do Projeto de Impacto de Mídia do Norman Lear Center na Annenberg School de Comunicação e Jornalismo da Universidade do Sul da Califórnia.

Como parte do estudo que ainda não foi divulgado na íntegra, os pesquisadores verificaram referências a 36 expressões-chave, como “mudanças climáticas”, “petróleo” e “aquecimento global” em episódios de TV e filmes lançados no mercado americano. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.